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segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Domingo no Mundo – Em Sintra com a Santa Malta

É hoje!
O Domingo que esperava ansioso fazia duas semanas estava aí, inevitável!
Armas e bagagens prontas, os 40km de caminhos reconhecidos e a dureza de algumas zonas que tinha verificado no sábado estavam prontas para receber os meus ilustres convidados.
Ligo para o Pedro assim que entro na Ponte para confirmar algo que já sei. Está a caminho e estará à hora combinada na barragem!
A Santa Malta, a malta da outra margem, vinha com a ilusão por mim carinhosamente alimentada que Sintra era um local paradisíaco, uma ilha como dizem alguns, para a prática do btt. Eu ansiava não defraudar as espectativas de todos eles e por isso moíam-me ainda algumas dúvidas quanto à exequibilidade de alguns trilhos por todos os companheiros, mas tinha a consciência de que os alertas por mim dados quanto à dureza geral das descidas tinha feito o eco que pretendia. A malta ía a contar com muitas subidas, mas também ía preparada para umas descidas dignas de alguma, se não muita perícia. Acrescia o facto dos trilhos se encontrarem molhados e escorregadios. Em abono da verdade, estavam realmente dificeis no sábado e não sabia ainda se seriam opção. Não faz mal, depois de tres reconhecimentos já tinha cartas nas manga para uma alternativa válida, mais acessível e até mais bonita.
Com efeito foi essa mesma alternativa que acabámos por utilizar evitando a segunda secção do trilho das Turfas.
Tudo estava pronto e foi com grande vontade que demos início ao passeio. Da barragem de Rio da Mula saímos quinze companheiros pedalando serra acima embrenhados nesta atmosfera única. Depois dessa larga marcha, umas zonas rolantes com trilhos algo técnicos que vâo preparando o pessoal para outros um pouco mais duros.
Na descida que rodeia o Convento dos Capuchos e num breve segundo, encontro-me estatelado no chão duro e pedregoso desta zona da serra. Um precalço que podia ter, logo ali, arruinado o passeio aos meus companheiros assim como ser causador de uma forçada paragem por tempo incerto. Felizmente que as consequências foram as menores e depois de recomposto o corpo e o orgulho lá me fiz de novo ao caminho, moído claro, mas feliz ao mesmo tempo por não ter partido nada e estar novamente a pedalar depois de uma das quedas mais duras que dei.
Já dei algumas, mas esta foi de uma violência particular. Não quero tão cedo repetir a brincadeira!
Daqui à Peninha e às suas alturas foi um tirinho, que só não foi rápido porque para conquistar metros à serra é preciso subir e muito! Subir desde a Quinta da Urca até às Pedras Irmãs, passando pelo antiquíssimo Caminho dos Carreiros, é duro mas recompensa quem se sacrifica. Por tudo, até pelos horizontes que vistos de lá valem sempre o esforço, valem bem todo o suor que se deixe cair no caminho e naqueles últimos metros de gravilha! Vale pelo horizonte da vista, mas também alarga outros!
No trilho das Turfas, várias quedas sem qualquer gravidade e uma mais aborrecida. A do companheiro Pastor que faz um corte numa perna atraiçoado por uma raíz mais exposta e viva… Um traço longo, grande e avermelhado pela esfoladela geral era feio e uma segunda parte daquele fime de escorregar nas turfas estava fora de questão. Bem dito reconhecimento, vamos por ali, à esquerda, que é sempre a descer em estradão até lá dar abaixo exactamente onde iríamos sair se optássemos pelo traçado inicial. Boa, caminho fácil foi do agrado de todos!
Na estrada asfaltada dá-se a separação dos companheiros que tinham os horários algo apertados. A eles juntou-se o meu amigo Pedro, que cheio de caímbras aparentava precisar rápidamente de um longo descanso, em vez de mais vinte kilometros, onde muito mais de metade seria a subir.
Dos quinze iniciais seguimos oito em direcção à povoação da Ulgueira, onde se fez uma paragem para bolinhos e café no café da vila aos pés da igreja matriz, actualmente o único do lugar.
De barriga quente, a longa subida fez-se devagar, lentamente, ao ritmo compassado de uma pedalada a seguir à outra, muito à semelhança do que se faz nas montanhas, do que faço noutros espaços. Um pé, logo o outro… Aqui é igual, igualzinho! Uma pedalada, logo outra e depois outra, sucessivamente até que a subida perca a sua inclinação, porque nunca termina realmente…
Rolando rápido, os Tholos do Monge surgiram no final do passeio como o ponto em que as subidas acabariam por terminar, ponto imaginário que apartir daí seria sempre a descer até aos carros! E é, mas não por umas descidas quaisquer, mas por duas secções de singletracks muito técnicos, com grandes blocos de granito ladeando outros mais pequenos, deixando apenas o espaço necessário para se fazer passar uma roda por entre uma linha segura imaginada numa fracção de segundo, lama escorregadia complicando tudo com a sua forçosa perca de aderência, as raízes transversais criando pequenos degraus… E um grupo de pessoal cheio de atitude, muita vontade e de espirito impecável fez o que pôde nestes trilhos demoníacos. A pedir muito das máquinas e da técnica individual!
Depois de ultrapassada a primeira secção, mais técnica, a segunda depois de um degrau mais alto, a pedir rabo a roçar os tacos do pneu traseiro, torna as inclinações das descidas numa questão relativa. Esta é uma parede, ponto final!
Os meus companheiros, uns a pedal, outros segurando a menina e mantendo o equilíbrio como podem neste terreno resvaladiço, todos chegam ao final como se gosta, de sorriso na cara!
A Santa Malta tinha provado e estava aprovadíssima nos técnicos trilhos de Sintra! A estarem secos, os trilhos, sentindo a segurança de ter tracção e muitos companheiros tinham rolado todas as zonas. Grandes aventureiros, não tiveram tarefa fácil. São trilhos realmente dificeis, não acessiveis a muitos! Mas a Santa Malta esteve lá, à altura do desafio!
A descida para os carros foi interrompida pela presença de dois companheiros foreiros para uma troca de palavras, de cumprimentos, de despedidas e seguiu-se a viagem, rápida, de regresso ao conforto de um banho quentinho que ja apetecia!
Por fazer ficaram uns poucos kilometros, um singletrack lindo e longo que ficará para uma próxima visita e mais umas subiditas!
Feito ficou um passeio muito porreiro, com belas vistas e paisagens, com malta como se gosta, de espírito são e amigo! Reinou o companheirismo, a entreajuda e a amizade e isso é algo que guardo sempre com muito carinho.

Um bem haja a todos pela companhia!
 

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