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segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Terras do Risco

O dia amanhece solarengo e de um azul límpido, quase cristalino.
Ainda antes de sair de casa podia apostar que o frio lá fora devia ser quase glaciar, pelo que devido a esse facto aliado a estar ainda a curar o resultado do Tróia-Sines da semana passada, saio de casa o mais quentinho que posso.
Mas assim que pedalo os primeiros metros relembro uma falha grave no equipamento. As luvas de verão não servem para estas paragens nestas alturas do ano.
Na zona baixa de Fernão Ferro, a temperatura ambiente bateu nos 0º, pelo que foi dito pelos companheiros que fizeram de carro os poucos kilómetros que nos separavam da rotunda do Marco do Grilo, o ponto de encontro para o real inicio do passeio, uma surpresa rolante da Morgas & Best Productions com a preciosa ajuda da malta dos EuPedalo.com.
Direitos à povoação de Maça fomos rolando por estradões de terra batida entre pinhais e sempre a bom ritmo fomos seguindo depois sob a batuta do Luis Romão até à zona das pedreiras, por terras e trilhos do Risco, finalizando esta na famosa e demolidora subida com o mesmo nome. Tinha dito a mim mesmo que da próxima vez que ali passasse só pararia lá em cima no miradoro natural sobre a baía de Sesimbra, com vistas deslumbrantes e que me recompensariam todo o esforço, mas ainda não foi desta…
Demasiado debilitado ainda para tal tareia, sem cerimónias desmonto aos primeiros metros mais empinados e com a companhia do Cédric fico a ver o Luc e o Luis a fazerem esta grande subida pela segunda vez enquanto esperam pelos mais lentos…. Por nós, portanto!
Devagar lá chegámos às vistas que já sabia estarem lá, independentes do sucesso do meu desafio interior, para me consolarem a alma e revigorarem o espirito.
Já não vinha sentindo frio fazia muito tempo. O sol já brilhava quente, ainda que baixinho, no horizonte. Neste pequeno recanto a várias centenas de metros acima do nivel do mar, pousado sobre um precipicio vertigionoso, as vistas estendem-se até nos perdermos na imensidão azul. Brutal simplesmente. Era capaz de me alimentar para sempre destas sensações, destas ilusões em que tudo pode ser perfeito, de que tudo se une em harmonia, aquela certeza que o pulsar do planeta tem um sincronismo secreto com o pulsar do nosso coração… Perder-me-ia aqui horas a olhar estas paisagens intermináveis!
Mas a fome chegou físicamente como um ruído no lugar da barriga acompanhada da rotineira necessidade de alimentar o corpo, além da alma. Um gel horrível fez as honras da casa, quebrou o encanto do momento, deixou um amargo na língua que apenas saiu com dois valentes golos de água, mas deixou as reservas energéticas de novo operacionais.
Da povoação das Pedreiras para a frente seguiram-se uns trilhos à moda da Arrábida. Terra vermelha, alguma pedra e bastante adrenalina, uns quantos metros a descer e já todos tinham esquecido a dureza da subida anterior levando mesmo alguns companheiros a descer mais que o necessário tal era o ânimo e o embalo!
Pouco depois estávamos à vista do Castelo de Sesimbra, onde iríamos encontrar o singletrack do Castelo, técnico diziam uns, muito bom apregoavam dois ou três, complicado outros tantos… Este single era algo que estava com ânimo para descobrir tal eram as descrições do pessoal e pelos filminhos que circulam na net.
Fiz-me ao trilho, deixando para o Julio uma margem de uns vinte metros. Com uma máquina igual à minha este homem não desilude e dá-lhe sempre com um bom ritmo mesmo nas zonas mais complicadas e técnicas.
Entrando no trilho a uma velocidade muito alta e depois de uns quantos metros de ravina do lado esquerdo, a rolar a mais de 25km/h, rápidamente eliminei a distância que me separava da traseira do Júlio e parar em poucos metros nestas circunstâncias torna-se quase impossível. Logo depois de uma curva fechada à esquerda, sempre em singletrack o Julio abranda e muito, repentinamente, devido a uma secção muito técnica de pedras, que obriga a uma velocidade muito reduzida para ser feita em segurança, fazendo com que eu tivesse que me aplicar a fundo nos travões, no sangue frio e no instinto para evitar uma colisão na traseira do meu companheiro. Ia ser feio, mas ele foi rápido a descer deixando-me aquele espacinho necessário para eu descer logo, mesmo logo depois dele. O homem tem a técnica apurada e foi o que nos valeu, não exitando fez esta minha desatenção nao ter passado de um susto meu e não uma queda de ambos!
Mais à frente um degrau com pouco menos que 50cm surge em simultâneo com o grito de aviso do companheiro Julio. O seu grito de "DROP" surgiu em simultâneo com percepção de ter apenas ar a ocupar todo o espaço sob a roda dianteira. Uma fracção de segundo para corrigir a postura da bike, agarrando forte e puxando pelo guiador deixando a inércia e a gravidade fazer o seu papel. Belo drop, voei completamente, muito boa a sensação digo-vos assim a jeito de desabafo. Mas o problema foi a velocidade a que saltei o degrau e o simples facto de o trilho virar abruptamente à direita o que me deixou muitíssimo pouco espaço para aterrar, abrandar e curvar.
O que é verdade deve ser dito. A geometria da Genius é mesmo adepta destes devaneios, destas aventuras. É super precisa, muito equilibrada e com um comportamente sempre exemplar. A feliz conclusão deste pequeno susto deve-se assim e também, em grande parte, à bike que me acompanha nestas minhas aventuras! Já valeu cada cêntimo, garantido!
Todos chegámos ao final com grandes sorrisos na cara! Uns mais depressa, outros mais devagar, mas todos gostámos imenso deste pequeno trilho, recomendado pelo Dfilp!
Mas com tudo isto, a malta ia acumulando kilómetros nas perninhas e a ideia de beber algo fresquinho estava já muito presente nas ideias do pessoal.
O Best tinha isso controlado e levou-nos a uma bela pastelaria, na vila de Sesimbra, com uma bela coleção de bolas com creme, que a malta esgotou, ficando a sobrar muitas outras delícias para quem é doido por bolos. Junto com uma coca-cola fresquinha soube como um manjar dos deuses, tal era já o cansaço acumulado agravado pela persistente constipação e respectivos problemas e dificuldades respiratórias que vinha a sentir desde o início.
Passei todo o dia assoando o nariz, respirando pela boca, ofegante, enquanto me indagava como tanto ranho poderia caber cá dentro. A única razão que me parece possível é que eu já devo ter o cérebro dissolvido e está a sair pelo nariz… Só pode…
Enfim, maluqueiras que a nossa mente pensa durante as subidas para nos entretermos e esquecermos o queimar dos músculos, para nos esquecermos da subida interminável que temos pela frente e que nos levará mais além, mais acima…
Assim foi durante a grande subida que fizemos desde o porto de Sesimbra. Uma subida de 2.5km, em estradão de terra batida, de bom piso mas longa e penosa.
Junto com o Cédric e o Mag lá fui pedalando, incentivado pelos meus companheiros, puxando eu por eles quando assim foi necessário, metro após metro deixavámos para trás vistas magníficas sobre toda a baía de Sesimbra, Tróia e mais além e iam surgindo à nossa frente outras tão ou mais imponentes. As escarpadas falésias que se erguem abruptas e selvagens sobre o mar, que se estendem até ao Cabo Espichel e o contornam até se perderem nas areias da zona do Meco e Lagoa de Albufeira. A nossa subida terminou bem no topo da falésia, várias centenas de metros acima do azul do oceâno.
Devido ao adiantado da hora a voltinha foi encurtada. Seguindo o Best lá fomos sempre a descer até Alfarim por estrada e assim seguimos até à rotunda do Marco do Grilo!
Aqui nos despedimos de alguns companheiros e foi depressa que nos pusemos novamente no Fogueteiro!
Mais despedidas, de novo os votos de boas festas da praxe, o abraço e o até para a semana, marcaram o final de mais um belo passeio, como aliás já começa a ser normal!

Cédric AkA Tomac98 nas Terras do Risco…

Alguns dados:Total: 71Km
Média: 17.2km/h
Tempo Total: 4h05m
Desnivel sub/acu: Disponivel brevemente
Track GPS: Disponivel brevemente


Os links para as galerias de fotos:
As minhas fotos…
As fotos do Dfilp…

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