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terça-feira, 25 de setembro de 2012

Agora sim, o rescaldo "DBR"

A etapa na Serra da Abobereira seria a mais curta das três, sem contar com a etapa do Prólogo. A minha participação no nível EPIC estava adiada. Seria no RIDE que iría conhecer a Douro Bike Race, uma corrida de BTT por etapas, ao nível das melhores provas internacionais.
Convenci também o meu pai, além da Marta claro, a alinhar na aventura e daí a escolha ter recaído na versão de um só dia. Cinquenta quilómetros de trilhos que eu sabia duros, com um acumulado total de subidas já considerável.

A minha cara metade enfrentava assim o desafio da sua ainda curta "carreira betetística" e o meu pai faria a sua estreia em eventos organizados.

A minha mãe acompanhou-nos até Amarante.
Maravilha! Família reunida para aquilo que se adivinhava já ser um excelente dia de btt. Mas calma, não pensem maluqueiras. A minha mãe foi de passeio turístico e acenar aos "maiores corredores da prova" - como ela própria dizia - enquanto nos filmava no arranque desta aventura.

A nossa ida até Amarante estava, há muito, preparada por mim.
Refiro-me à parte logística, porque o resto, e sem sombra de dúvidas o mais importante, tinha ficado curto. Já o sabia e nada podia agora fazer! Mas ainda assim, foi confiante no sucesso da empresa que passei debaixo do arco de meta, no arranque da etapa.

Os treinos da Marta não foram os necessários para a conclusão daquilo que seria o seu maior desafio nestas coisas de maratonas de bicicleta de montanha.

O meu pai, melhor preparado fisicamente, viria a pagar a factura da inexperiência e após muitas horas a pedalar sozinho, sucumbiu ao esforço e às câimbras. A falta de cabeça para gerir o seu andamento, o descurar de uma hidratação e alimentação conveniente, ditaram o fim da sua hercúlea tentativa de levar de vencida a Serra da Abobereira.

Mas vamos por partes. Ou melhor, pelo principio...

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Percebemos minutos antes do inicio da aventura que o tempo máximo que teríamos para completar a etapa seria de seis horas. Menos uma do que tínhamos ideia. Logo ali percebemos que teríamos bastantes dificuldades em terminar dentro do horário limite.

Ficámos logo nos primeiros dois ou três quilómetros a pedalar na companhia do homem que ostentava a placa "Mayday" na frente da bicicleta. Isso e uma corneta cor de rosa que eu acho que sei de quem era.
Pois foi na companhia do Frinxas que pedalámos a quase totalidade do caminho, apenas perdendo a sua presença aqui e ali.

Os trilhos foram absolutamente fantásticos - imagino o que foi a descida desde o topo da serra, porque todos que a fizeram dizem que foi alucinante.

O meu pai, que logo à saída de Amarante começou a ganhar-nos distância, acabou por perder um bocadinho de terreno e consegui vê-lo a determinada altura, mas ele achou que nós o haveríamos de apanhar e voltou a arrancar, novamente sozinho.


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O evento foi fotografado por uma equipa de fotógrafos, chamada Sportgraf e realizaram um trabalho realmente fantástico. Durante os quatros dias de prova tiram a cada atleta mais de cinquenta - sim, 50(!) - fotos, com equipamento de disparo automático (células) espalhado ao longo do percurso e uma equipa de fotógrafos colocados no terreno.
Menos de 24h depois tinham online esta galeria de fotos grátis, onde apareço eu e a Marta.
Como podem ver pelas duas fotos aqui disponibilizadas, o trabalho fala por si. Temos os três várias fotos fantásticas e com bastante qualidade.
Podem ver mais aqui: http://www.sportograf.com/en/shop/event/1721

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No primeiro abastecimento, o Frinxas mencionou a questão das horas, e eu também já tinha percebido que não iríamos ter tempo para chegar ao ponto de corte e passar. Ou seja, seria subir a esmagar pedal para corrermos o risco - certo, diga-se - de não deixarem continuar e termos que abandonar na mesma.
No entanto, o Frinxas falou connosco e disse em voz alta aquilo que eu já sabia. A Marta ficava assim a saber que tinha duas horas para subir mais de 15kms e vencer perto de 900m de desnível acumulado.

Na FeedZone fiquei também a saber que o meu pai ainda ia bem, mas que também não tinha comido nada. Seguia uns minutos à nossa frente.

Volto a repetir algo sobre os trilhos. Escolhidos a dedo e todos de elevada beleza!
Mas ainda não tínhamos começado a subir a sério, e já de novo na companhia do Frinxas, o motor da Marta dá o berro e acabamos por tomar a decisão de abandonar a etapa assim que chegássemos à estrada de alcatrão.
A Marta estava bastante cansada, mas nada de extraordinário. Talvez com a tal hora extra que achávamos que tínhamos, talvez nas tais sete horas, tivéssemos tido hipóteses.

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A Marta ficou com pena, percebi.
Ainda me disse para eu seguir com o Frinxas e tentar passar ainda a horas e talvez ainda conseguir levar o meu pai a reboque, mas não fui capaz.
Se por um lado tinha muita vontade de esmagar os pedais por ali acima na companhia do Frinxas e ir terminar a etapa, por outro não conseguia deixar a Marta abandonar sozinha.
Eu também fiquei com pena. Não por não ter terminado a etapa, isso não me dizia nada. Seria, apenas, mais uma meia maratona, por mais dura que fosse.
Fiquei com pena porque queria esta vitória para a Marta. Queria cruzar a meta com ela. Queria vê-la completar este desafio. Sozinho nem sequer me iria parecer bem.

Daí que ficámos à espera que nos viessem buscar junto com um elemento do Staff, enquanto o Frinxas, o Mayday, arrancou sozinho em busca do último companheiro e desmobilizando o staff que ia encontrando pelo caminho.
Quem nos veio buscar foi o próprio Zé Silva, que tive um prazer imenso em conhecer. Acabámos por falar bastante e foi um dos meus "pontos altos" do fim de semana. Afinal não é todos os dias que podemos falar pessoalmente e descontraidamente com um dos nossos ídolos!
As bikes foram recolhidas e entregues no Bikepark.

Andámos a recolher mais pessoal que ia desistindo. Um quilómetro ou dois mais á frente do sitio onde nós abandonámos estava outro companheiro. Vitima de duas quedas e de ritmo muito quebrado, foi aconselhado pelo Mayday a abandonar naquele ponto.

O meu pai acabou por ser também apanhado pelo Frinxas, a uns poucos quilómetros da segunda "Feed Zone".
Quando se encontraram, o Frinxas disse-lhe que nós tinhamos abandonado e isso foi a machadada final no que restava de moral e vontade do meu pai.
Soube depois, já por ele, que começou a ter muitas câimbras quando teve que optar pelo pedestrianismo. O cansaço extremo, as muitas horas a pedalar sozinho, a falta de comida e bebida em doses convenientes e por fim a notícia de que estava a enfrentar tal aventura sozinho e que era o último, levou-o a desanimar e desistir da aventura.

Ligou-me na altura em que estávamos algures na Serra, já num dos cruzamentos da descida com a estrada asfaltada. Tínhamos ido buscar um companheiro que tinha dado uma queda e que precisava de tratamento. Nada de muito grave, mas as ligaduras no queixo e testa davam certezas que as pedras não tinham sido meigas com ele. No entanto, mantinha o espírito intacto e o humor em alta. Muito bom!
Soube uns dias depois pelo Forumbtt.net que o companheiro fez apenas uns arranhões, levou uns pontinhos e numa semana estava novo e pronto para outra!
O elemento do Staff que conduzia a carrinha onde iam as nossas bikes lá saca um atalho da manga e enquanto ele foi buscar o meu pai, ao outro lado da serra, nós seguimos direios a Amarante, para a Aldeia DBR e para a tenda da Cruz Vermelha, onde eles já nos esperavam.

Despedimo-nos do Zé Silva e dos restantes dois companheiros que nos acompanhavam e fomos ter com a minha mãe, que nos esperava a uns metros dali.
A Marta estava a começar a sentir o cansaço que não sentira logo. Entretanto chega o meu pai e fomos ter com ele. Aproveitámos para trazer as nossas bicicletas e aí sim, seguir para o Hotel Amaranto, onde ficámos alojados, direitos a um banho quentinho e roupas lavadas.

O meu pai e a Marta estavam bastante cansados, mas o estado do meu pai só me foi realmente percetível já durante a cerimónia final. Estava completamente "derreado".
O meu pai ficou assim, com 64 Primaveras, a conhecer o temível "Homem da Marreta". Apanhou o empeno da vida dele e de certo que irá ter mais respeito pelo esforço inerente a este exigente desporto.
Mas acima de tudo, mantenho a certeza que, se tivesse comido e bebido como lhe disse e se tivesse um bocadinho mais de paciência para moderar e gerir o esforço e ritmo, que ele tinha pernas para completar aquele desafio.
Não seria fácil, fácil, mas que daria, isso de certeza que sim. Também tive pena que ele não tivesse acabado, mas lá iremos todos em 2013 tirar as teimas.
Eu presumo que vou levar a marretada da minha vida, mas o EPIC é ao meu jeito e como eu gosto, pelo que será a minha aposta para a próxima edição.

Resta-me pouca coisa que dizer. Ou melhor, falta-me muito, mas só quero dizer umas últimas coisas.
É em relação à organização e a tudo o que me foi dado a ver e a viver.
Talvez o melhor Evento em que já tive oportunidade de participar, se não mesmo o melhor! Uma equipa de luxo -  e não me canso de dizer isto - com Pessoas de luxo.

Obrigado a todos e a cada um deles pelo seu trabalho dedicado e apaixonado. Pela simpatia, disponibilidade e hospitalidade com que nos receberam.

Uma palavra de agradecimento especial a esta alma de cabeleira branca.
Obrigado Frinxas, pela tua paciência e boa onda!
Foi realmente um prazer ter a tua companhia durante aqueles quilómetros e essa foi também uma das boas memórias que esta aventura me proporcionou.

Frinxas, o homem da placa "MAYDAY" a cruzar pela última vez, este ano, a linha de chegada da DBR! Não deixou ninguém para trás e ganhou de certeza o prémio do gajo com mais horas sentado em cima do selim! Sempre com um sorriso, sempre pronto para ajudar, com uma boa disposição contagiante!

Basicamente, e apesar de as coisas não terem corrido como esperávamos no terreno (ehehehehe), foi um enorme prazer poder fazer parte dessa grande festa que foi a "Douro Bike Race"! Para o ano lá estarei novamente, para rever esta malta e conhecer outra nova, que ainda é isso que o BTT tem de melhor. A partilha!
Gostei muito! Aliás, gostámos todos!

Se é duro? Muito! Bem o vi na cara da malta a chegar no final de sábado! Muito duro mesmo.
Se vale a pena? Sem sombra de dúvida! Um desafio de BTT ao mais alto nível, físico e mental.
Se é preciso treinar? É!
O que se ganha? Uma experiência inesquecível e sobre tudo um maior auto-conhecimento sobre nós mesmos!


Aqui deixo o link para a galeria das minhas fotos:
https://picasaweb.google.com/102105685869649773359/DBR2012

E o vídeo que fiz da nossa participação:


http://www.youtube.com/watch?v=3DHjTOCMBZU

Lá nos veremos em 2013!
We are Ready!

Abraços & Boas pedaladas.

1 comentário:

  1. Como eu compreendo o teu desalento por não teres terminado o desafio!! Mas neste casos não se pode fazer outra coisa e tomaste a decisão correcta.

    Para o ano de certeza que vai correr melhor!

    E nunca é demais referir que como tu já nos habituaste o rescaldo e o vídeo estão 5 estrelas, e que é por estas e por outras que eu gosto muito de cá vir.

    Keep up the good work!!

    Abraço!

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