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domingo, 31 de maio de 2015

GR22 :The Commitment



Uma aventura na Grande Rota das Aldeias Históricas"
A true self-supported bikepacking adventure

A ideia base é bastante simples, a bem da verdade.

Percorrer os cerca de 600kms que compõem o percurso marcado como GR22, conhecido mais recentemente como GR22-AHP ou apenas como "Grande Rota das Aldeias Históricas", de forma completamente autónoma, sem etapas, assistências ou alojamentos pré programados.
Conhecem aquela máxima:"Ride, eat, sleep. Repeat."?
Pois bem, será o mote desta odisseia!

Olhar para o percurso circular e interpreta-lo como sendo um percurso linear; Medir as etapas em horas de luz disponíveis para pedalar e não em distâncias quilométricas ou em valores acumulados de subidas ou descidas; Dormir "bajo las estrellas" e tomar os pequenos-almoços com o nascer do dia e os bichos por companhia; Banhar-me nos riachos, fundir-me com o mundo que me rodeia, ser, sentir, ouvir, ver, conhecer e descobrir.
Estes são os meus objectivos para esta aventura!

O outro objectivo - o objectivo "menos sério" - será cumprir o percurso na totalidade, honrando a pureza do conceito "Self-supported", num tempo máximo de 120 horas...


Chegarão, penso eu, cinco dias de Sol a Sol.
Cinco dias completos, recheados de incógnitas e incertezas – com três ou quatro noites de natureza em estado bruto pelo meio – para percorrer a Grande Rota das Aldeias Históricas na integra.
Talvez dê para fazer em menos, talvez me veja obrigado a fazer em mais. Logo se verá. As 120 horas são a Lebre! Ou a cenoura, dependendo do ponto de vista...

De Sortelha, irei arrancar em direcção a Norte no dia 06 de Junho, Sábado.
Esta pequena povoação servirá também como local de dormida para a noite "0". Permitir-me-á fazer uma última noite repousada – espero – para arrancar às primeiras horas de luz de Sábado.
Esta noite não entra nas contas, pois será na carrinha com todas as comodidades que esta permite. E no que às comodidades diz respeito, prevê-se que sejam as últimas dos próximos dias.

Largando Sortelha às primeiras horas da madrugada, espero vir a parar para dormir a primeira noite algures entre as povoações de Almeida e Trancoso, a bem mais de uma centena de quilómetros de distância. No segundo dia terei que alcançar, pelo menos, a povoação de Linhares. Se passar esta, tanto melhor. No entanto, e sabendo que os dias seguintes serão muito exigentes, será quase certo não esticar este dia para privilegiar uma boa noite de sono, mas tudo dependerá de como as pernas se sentirem e as "ganas" que tiver;

De Linhares a Piódão será o princípio do tormento. Perto de 100kms separam estas duas povoações numa zona muito montanhosa e inóspita. Conto com um dia certamente extenso, de prolongado "prazer" e horas intermináveis passadas essencialmente a subir. Tenho cá para mim que este dia não irá ser dos mais fáceis que já tive de pedal, mas o futuro o confirmará.

Na continuação do dia anterior, e assumindo que consegui chegar a Piódão, terei nova centena de quilómetros até Castelo Novo, novamente por terreno bastante acidentado e terrivelmente exigente fisicamente – Sempre estamos a falar de valores de acumulado de subidas que superarão os 3000 metros numa jornada de 100kms, mais coisa menos coisa, carregado que nem uma mula nepalesa!
Se o dia anterior for duro, este irá ser certamente pior...
O jantar extra que irei enfiar na mochila, se não tiver marchado já, deverá dobrar o reforço final deste dia.

Mas como sou um gajo optimista por natureza, – ou teimoso por feitio – espero sempre o melhor; Ou seja, assumindo que chego – vivo, claro – a Castelo Novo na noite anterior, e tomando esta como bitola, ficam a sobrar apenas 140kms até à povoação de Sortelha que conto cumprir numa só tirada.

Sortelha, de onde parti 5 dias antes, e que se tudo correr conforme este grandioso plano meu, estará agora à distância de apenas uma jornada. Uma tirada valente, certo! Mas que me levará a percorrer alguns dos melhores trilhos deste Portugal; Para este último troço, os montes e vales da zona Raiana serão o palco principal, com Monsanto imponente coroando o horizonte, e por onde terei forçosamente que passar.

Todas as povoações mencionadas servem, apenas e só, de bitola para o meu calendário. São meros pontos de referência que me servirão essencialmente para controlar se vou dentro do meu objectivo, ou fora dele.

Poderão eventualmente servir também para um jantar mais substâncial e reparador ou tratar de outras situações que possam eventualmente surgir. Não conto com alojamento mas poderei eventualmente usufruir de algum se este coincidir com o final do dia, mas por principio não irei condicionar a distância diária a percorrer para dormir debaixo de tecto. 
Além das acima mencionadas, obviamente que passarei muitas outras povoações, onde conto ir adquirindo alguns víveres e reforços alimentares. Isto, se for encontrando algo aberto.

E pronto!
Este é o plano. O meu plano! O plano mais do que planeado.
E o que não estiver planeado, é porque não me faz sentido planear.
Aparentemente, é o conceito de "Overcomming of Self", segundo Nietzsche; Eu prefiro chamar-lhe um "Gentleman's agreement" entre mim e a minha Persona.

Mas descansem os mais cépticos que deixarei todos os dados necessários para que ninguém tropece num defunto no meio do trilho e caso o terrível aconteça. Se eu não der noticias, alguém – espero – irá tentar resgatar o meu esqueleto. Mais que não seja porque por perto deverá estar uma bicicleta que ainda vale uns cobres se for vendida às peças. Sim, às peças, que o mercado de 26" está, digamos, desvalorizado.

E por falar na bicicleta, por falar nessa maravilhosa invenção...
Quem me conhece sabe que sou um adepto apaixonado do formato "Singlespeed"; Bicicletas de uma só velocidade que primam pela simplicidade e eficácia, com um conceito e estilo de pilotagem muito próprios. No entanto, as mesmas características que as tornam únicas e singulares jogam, nesta minha aventura, como um factor desfavorável contra o sucesso da empresa. Irei carregar a bicicleta e as costas com vários quilos extra de material, pelo que um sistema de desmultiplicação de forças é o mais razoável para manter tempos minimamente aceitáveis e ser viável a concretização do meu objectivo "menos sério". Evito deste modo “botar pé à terra” nas subidas mais ingremes e conseguirei rolar a velocidades superiores aos actuais - e míseros - 25km/h. Sou fã e apaixonado, mas não um fanático extremista!

Assim, o carreto de 18t irá sair para dar lugar à velhinha cassete Sram de 9 velocidades e a par entrará o necessário shifter; Voltarei, após perto de 3 anos sem tocar em nada parecido, a pilotar uma bike com mudanças. Mas será uma alteração muito ponderada e exclusiva a esta aventura – e à Via Algarviana, em Setembro, mas isso será outra historia a contar na altura própria (!)

O que disse ao meu amigo Dário umas semanas atrás, repito agora.
Tentar esta viagem no mais puro dos estilos – na minha opinião, claro – e em contra-relógio, já me parece por si só, um bom desafio. E qui'ca talvez até um bocadinho audacioso se medido pela altura do cronista!
Agora, pensar em fazê-lo de Singlespeed seria um bocado estúpido...
Não seria desafio maior nem nada.
Seria, apenas e só, Estúpido!

Daí que irei optar por um "velhinho" sistema de 9 velocidades com um prato de 34t na frente. Ganho alguma margem extra nas subidas, mas acima de tudo irei conseguir rolar substancialmente melhor. Para quem costuma andar com uma mudança apenas, ter nove disponíveis será mais que suficiente, espero!
Mas desenganem-se os mais cépticos, que assim que esta brincadeira terminar, a versão 1x1 voltará a reinar.

E pronto!
É isto. Basicamente, é isto...
É o meu compromisso de honra. 
O meu "Commitment" para comigo próprio. Porque aquilo que não nos desafia, não nos transforma!

E, se ainda assim o leitor – sim, tu aí – se ainda assim continuas com questões por responder, certamente que este não será o teu estilo de aventura preferido. Mas, tranquilidade acima de tudo; Encosta-te para trás na cadeira e navega para outra página ou Tópico qualquer; Mas, aceita este conselho de amigo, continua a procurar aquilo que te faz sonhar, pois existem sempre mais de mil maneiras de nos perdermos!
Esta é apenas a minha!

Porém, se fores masoquista e sádico o suficiente, e se de alguma forma te revês neste tipo de conquistas, mantém-te por aí...
Não prometo nada de jeito. Aliás não prometo nada, de todo! Mas uma vez tornado público o repto, haverá que dar notícias dele no final. Para o bem ou para o mal.
Daí que, das duas uma: Ou eu viajo na Maionesse ou tu viajas no sofá! Noticias haverá.
E fotos também. Provavelmente, até um filmito no final (!)


Vêmo-nos por aí!
Abraçorros.
Frederico Nunes "Froids"
@2015

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