Para
mim, a aventura de Tábua começou na sexta-feira à noite, quando
comecei a desmontar e montar o "novo" sistema de
transmissão igual ao que irei levar para a Grande Rota das Aldeias
Históricas.
Tudo
lindo antes de testar. Na prática ficou uma bosta. E enorme!
Só
Sábado às 15h da tarde é que tinha todos os problemas
aparentemente resolvidos, mas não cheguei a sentar o rabo em cima do
selim e testar tudo com carga. Asneira(!)
Arrancámos
de Lisboa às 05h20 da manhã. Eu, a Sandra e o Carlos. Já em Tábua
juntámo-nos ao Marco. Os quatro virgenzinhos no que tocava à mítica
maratona de Tábua. Todos no entanto, sabíamos mais ao menos ao que
íamos. E digo mais ou menos
porque a prova superou em tudo as nossas espectativas. Foi
simplesmente brutal.
Arrancámos juntos da Box1.
Nem
tinhamos pedalado 500m e começo a ouvir um barulho estranho oriundo
do meu novo desviador
traseiro. Duzentos metros mais e acabo por avisar o Carlos que tenho
que parar. O Marco e a Sandra também param e voltam para trás.
Não
demoro mais de 2 minutos a corrigir o problema e a asneirada do dia
anterior, mas com isso ficámos os quatro a pedalar sozinhos.
Libertou-nos
um pouco os trilhos, mas foi a altura em que sofri mais para
acompanhar os meus companheiros de aventura.
O
Carlos percebeu o meu estado quando algures olha para mim e me vê a
suar mais que num banho Turco. Mas lá encontrei o meu ritmo e lá
descobri umas artimanhas para me ir safando até final.
Descobri no Domingo que já não sei pedalar sentado. Já não estou habituado a fazer esse tipo de força. Fiquei a descobrir também que o que não subia sentado em 1x1, subia em pé em 1x3 ou 1x4(!)
Raios parta a maluqueira. Subia melhor, com menos esforço, mais tracção, mais tudo!
Descobri no Domingo que já não sei pedalar sentado. Já não estou habituado a fazer esse tipo de força. Fiquei a descobrir também que o que não subia sentado em 1x1, subia em pé em 1x3 ou 1x4(!)
Raios parta a maluqueira. Subia melhor, com menos esforço, mais tracção, mais tudo!
Começámos
a apanhar logo singletracks brutais um pouco depois do km20. Todos
absulatamente fantásticos. Fluídos, técnicos q.b e mantidos e
criados com dedicação. Um verdadeiro luxo quase todos eles.
A
boa disposição do nosso grupinho foi sempre nota dominante.
Mas eu não conhecia nem a Sandra, nem o Marco.
A
Sandra, disse-me o Carlos uns dias antes, precisava de boleia para
Tábua porque tinha inscrição e estava apeada. Passámos nesse
instante a ser três.
O
Marco era amigo da Sandra e estava já em Tábua à nossa espera.
Revelaram-se
companheiros cinco estrelas.
O
Marco, bem o Marco nem sei se chegou a suar em alguma das subidas do
dia. Apre que o rapaz é forte. E também desce bem. Pessoal mesmo
sólido a andar. E a Sandra, ah pois a Sandra... A Sandra fez-me suar
as estupinhas para me manter na roda dela durante os primeiros
quilómetros da prova e mais não digo.
"Ah
e tal, estou em baixo de forma..." - Dizia ela no início.
"Em
baixo de forma, ela? Ainda bem, que se estivesse a tope
tinha-me morto!" - Disse eu para o Carlos no final, meio a
brincar meio a sério!
Mas
que companhia excelente! Super divertida, sempre a curtir, mesmo um
prazer conhecer! E com um daqueles andamentos "honestos"
como a malta gosta. Rolava bem, subia melhor e descia como muito gajo
com muito mais anos disto não desce!
O
Marco é mais reservado e rolou quase sempre na frente do nosso
grupinho. Isto depois do primeiro abastecimento.
Mas
até lá e devido a uma paragem, dele e do Carlos, eu e a Sandra
acabámos por rolar alguns quilómetros sozinhos e na cabeça do
nosso grupo.
A
determinada altura a Sandra diz-me, entre uma respiração e outra, que tinha novo objectivo para
aquela prova...
Eu
não percebi imediatamente o que ela pretendia dizer com aquilo até porque o objectivo comum previamente definido entre todos era única e
exclusivamente "córtir os trilhos" da 9ª Maratona de Tábua.
Mas a nossa companheira de passeata já tinha avistado uma outra betetista, uns metros mais à frente, trajando equipamento do Benfica...
A Sandra é do Sporting!
A Sandra é do Sporting!
Ultrapassa-a
sem cerimónias e pisa forte no pedal.
O
novo objectivo da Sandra passou de imediato a ser terminar à frente
da Gaja do Benfica. O principal mantinha-se, claro!
Quando
chegámos ao primeiro abastecimento ainda estivemos uns minutos à
espera do Carlos e do Marco. Os suficientes para a Sandra ainda me
deitar esta frase:
"Ou
nós estamos muita fortes ou eles estão muita fraquinhos!"
Eu nem sabia bem o que pensar naquela altura...
Eu nem sabia bem o que pensar naquela altura...
Sinceramente,
quando ali parámos eu já tinha encontrado novamente um ritmo
tranquilo e vinha bem, mas a miúda trazia mesmo o
diabo no corpo. Passámos por malta a subir com uma bolina como há
muito que não me acontecia. Muita bom! E à medida que o tempo e os
quilómetros iam passando, eu ia redescobrindo o prazer que também
existe em andar com sistemas de mudanças. Mesmo com uma K7 gasta e a
saltar como eu trazia a minha...
Neste
primeiro abastecimento havia de tudo, inclusive um rancho folclórico
com pessoal trajado a rigor e vinhaça para acompanhar as febras e
entremeadas que estalavam no grelhador.
Mas
no meio daquela azáfama toda e ainda antes dos nossos amigos, havia
de chegar a Gaja do Benfica.
E
acabou por arrancar ainda eles não tinham acabado de dar o primeiro
golo no copo de tinto.
Percebi
que a Sandra mantinha a dela fisgada e quando arrancámos deste
abastecimento sabia, nem sei bem porquê, que ela não haveria de
descansar enquanto não voltasse a ultrapassar a outra moça. Sem
conhecer bem a Sandra, fiquei com a ideia que ela não iria desistir
assim tão facilmente.
Tal
acabou rapidamente por acontecer.
Quando
a ultrapassámos novamente meti-me com ela e disse-lhe: Então, mais
contente?!
Ao
que ela me responde algo do género: "Só quero ficar à frente
dela. Só quero ficar à frente da Gaja do Benfica"...
Foi
quando percebi que era mesmo corrida que iríamos ter!
Até
porque a determinada altura, vislumbro a roda dela a chegar-se à
roda da Sandra. Ambos percebemos às claras que a Gaja do Benfica não ia dar aquela vitória
à Sandra de mão beijada. Iria haver luta. Ela picou-se quase de
certeza, deve-nos ter ouvido ou assim. Mas nunca nos ultrapassou,
esperta!
No
abastecimento seguinte estavam já parados o Carlos e o Marco na
palhaçada com a malta da organização.
Nós
paramos também. A adversária directa da Sandra não. E esta
estratégia fez com que demorássemos imenso tempo a reencontrá-la.
Durante
esse intervalo na "corrida", fomos apreciando os trilhos,
as paisagens, o pessoal da organização em todos os muitos pontos de
água e abastecimentos que tivemos, toda a envolvência com a
população e acompanhantes dos atletas, que é qualquer coisa de
incomparável. Toda a prova e magnitude da "coisa" é
magistral.
Mas
os trilhos, os trilhos é que são qualquer coisa do outro mundo! Já
me repeti? Não faz mal, poderia repetir-me a noite toda que não
lhes faria a devida justiça. Um grande trabalho que é visita
obrigatória na carreira de qualquer betetista que se preze, sem
sombra para dúvidas.
Toda
a nossa participação foi pautada pela descontração e boa onda.
Esta última chegou mesmo a acontecer enquanto estivemos parados num
dos trilhos mais emblemáticos e onde estava concentrado um elevado
número de pessoas a assistir à prova, envoltas num cenário idílico.
A
páginas tantas dou com a Sandra a puxar pela malta e acaba mesmo por
conseguir fazer a "onda" com muita daquela gente. Foi fixe
de assistir e vivenciar e serve para perceberem o espirito com que
íamos a levar a "cenaça".
Nesta
altura deduzo que o modo "RACE" ia em lume brando na
cabecinha da Sandra. Os trilhos que se iam mostrando à nossa frente
eram absolutamente alucinantes e dignos de total entrega. Quer pela
sua beleza, quer pela sua tecnicidade. E ainda por cima tivemos a
sorte de poder fazer alguns deles livres de grandes paragens e assim
apreciá-los completamente. Um luxo!
O
Carlos e o Marco rolavam ora connosco ora uns metros à nossa frente,
sempre mais fortes que eu e a Sandra. Mas formámos um grupinho muito
coeso e mantivemos um ritmo relativamente bom durante todo o
percurso. Ritmo de passeio "rápido", como disse a Sandra.
Basicamente,
eu nem tive direito a cigui, por mais vontade que tivesse. Se
parasse, perdia o combóio! E não iria fazer o combóio esperar por
causa deste meu vício estúpido.
Chegamos
a mais um abastecimento. E neste abastecimento ficamos a saber, entre
meia banana e mais um quarto de laranja, que a Gaja do Benfica seguia
um minuto ou dois à nossa frente, junto com o restante grupo do
pessoal da Casa do Benfica de Almada do qual fazia parte.
A
Sandra arranca disparada ainda eu nao tinha comido a laranja toda!
"Vou
andando! Vocês já me apanham!" - Larga para o ar, sem olhar
para trás, enquanto se lança a fullpower
aos trilhos, de alento completamente renovado.
RACE
Mode back on!
Jogo
a embalagem do gel vazio para o lixo e agarro na bike. Seguimos os
três a todo o gás até apanharmos novamente a Sandra, um quilómetro
ou dois mais à frente. O Carlos e o Marco passam-na na bolina, numa subida com alguma areia e que me obriga a desmontar
devido a erros de trajectória, falta de tracção e de prática no
manejo das mudanças. Tudo junto e este artista acaba a meter o pé
no chão e desmontar antes de terminar a rampa que tinha pela frente.
Apear
com estes meninos é sinónimo de muitos metros de distância que se
ganham quase de forma instantanea.
Não
me consegui montar logo e sou obrigado a terminar a rampa a penantes.
Quando lhe ganho o topo já não vislumbro os meus companheiros.
Sozinho quebrei um bocadinho o meu ritmo e custou-me voltar a
embalar.
Só
fui espevitar novamente um quilómetro ou dois mais à frente quando
me chego à roda da Gaja do Benfica. Pelo ritmo lento e quebrado que
trazia ainda pensei que não fosse a mesma rapariga, mas quando me
cedeu passagem, percebi que sim.
E
percebi também que a Sandra e o resto do pessoal também já teriam
passado por ela. E acordei novamente para a vida!
Sabia
que ela, a Sandra, não iria agora dar descanso e não se iria deixar
apanhar novamente, pelo que, seu eu pretendia chegar novamente à roda dela, teria que me aplicar e andar mais do que ela estava a
andar, como mínimo.
Mas
sozinho essa tarefa revelou-se mais complicada de fazer do que de
pensar. As subidas tinham dureza e algumas também tinham técnica à
mistura e muitas delas pouca tracção. Em grupo minimizam-se os
esforços. Sozinho, tudo parece mais inclinado, maior,
interminável...
Mas
acabei por avistar a Sandra, sozinha, a uns escassos metros de mais
um abastecimento. Fiquei depois a saber que iriam esperar ali por
mim.
Gostei
do gesto, e fiquei sentido, mas não comentei. Que bom grupo que se
juntou. Tudo pessoal com valores que eu aprecio muito. Fiquei mesmo
contente. O espirito do nosso grupinho continuava em altas! Sempre bem dispostos, a rir e a desfrutar de tudo o que havia para desfrutar.
Felizmente não os fiz esperar quase nadinha e apesar de naquela altura estar mais cansado do que seria normal, tinha conseguido ganhar-lhes algum terreno e isso deu-me alento novamente. Aliado ao que comentei acima, apesar de já sentir nas pernas algum cansaço, fiquei com a moral renovada.
Mais
umas águas para dentro, umas águas para fora e fazemo-nos novamente
ao caminho!
Daqui
para a frente faltava pouco, cerca de 15kms sensivelmente. Mas que
não foram completamente fáceis. Algumas pistas boas a descer e a
subir, mas essêncialmente caminhos exigentes, todos eles, de uma
forma ou de outra. Só mesmo para o final se rolou um bocadinho de
forma mais solta.
O
resto foi "serrote", sempre.
Começamos
a dobrar companheiros mais atrasados, provenientes da meia maratona e
a determinada altura, avistamos dois rapazes parados, cada qual de
seu lado de um singletrack já por si estreito, após uma zona algo
complicada.
Vinham
desmontados porque o trilho era demasiado técnico para eles.
A Sandra faz tudo bem, mas quando chega à beira dos rapazes, desequilibra-se e dá um toque num deles que, desamparado, cai estatelado no buraco que havia atrás dele.
A Sandra faz tudo bem, mas quando chega à beira dos rapazes, desequilibra-se e dá um toque num deles que, desamparado, cai estatelado no buraco que havia atrás dele.
Mas
caiu de uma forma absolutamente genial.
Ao
toque da Sandra, e ao perceber que já tinha perdido o equilíbrio e
que já nada podia fazer para impedir a queda, abre muito os olhinhos
e a boca, tem ali um segundo ou dois de espanto e depois cameça a
rir enquanto cai, quase em camara lenta. Mas rir a bom rir!
O
rapaz estava exausto e caiu também em parte devido ao cansaço.
Mas
a cena foi simplesmente hilariante. Ele caiu em cima de um tapete de
folhas como se tivesse caido numa cama, mas ficou de pés para cima e
cabeça para baixo. E no meio das pernas, a bicicleta.
E
ele ria! O amigo dele também.
Ajudei-o
a sair dali enquanto a Sandra se desfazia em desculpas! Mas os
rapazes mantinham uma onda brutal! Grande moral... O que ficou a
conhecer a Sandra em primeira mão, em momento algum ficou chateado
ou levou a mal. Só se ria.
E
no final ainda nos disse: "Bem, uma estava guardada!"
(Referia-se a quedas enquanto continuava de sorriso na cara!)

O
dia foi brutal, amanhecendo algo fresco para ir aquecendo durante o
dia, proporcionando um bom dia para pedalar. As paisagens e os
trilhos foram espectaculares e dignos de registo por si só, a
organização esteve bem em todos os aspectos. Tudo esteve muito bom,
mesmo excelente.
Mas,
para mim e de forma inquestionável, o melhor do dia foi mesmo a
companhia!
Obrigado
por aturarem este magrela e por me deixarem rolar com vocês! Foi, é
e será sempre, um privilégio!
Para
aquele pessoal que ler esta crónica e não conhece e que de alguma
forma pondera participar nesta maratona, nem pensem em ir com outro
espirito que não seja o de "Córtir os Trilhos". Tudo vale
a pena e merece ser apreciado sem grandes pressas. Vão e desfrutem!
É só isso que tenho para vos dizer. Certamente que não se irão
arrepender.
No
entanto, alguma preparação física é recomendável, porque aos
~1500m D+ de subidas terão que acrescentar a dureza das descidas o
que perfaz desta uma prova com alguma exigência física e técnica.
Mas que se recomenda vivamente, e que vale cada gota de suor que se
deixe naqueles trilhos.
Em
resumo, um dia a par com alguns dos melhores dias que já passei a
pedalar durante os meus 15 anos de bicicletas.
E
certamente e sem cerimónias, um dos mais divertidos!
O
track do percurso irá para a pasta "Tracks GPS" assim que
possível.
O
vídeo da aventura está em processo de edição. Conto tê-lo pronto
até Quinta-feira, o mais tardar.
Há por essa internet fora várias fotos nossas. Á medida que as for encontrando ou mas forem cedendo e mostrando, vou actualizando esta posta com algumas que valham a pena!
Nota de rodapé:
Se a Gaja do Benfica por ventura ler estas linhas, que não leve a mal o facto de ser tratada por "Gaja". O termo é carinhoso e de forma nenhuma pretende ser diminutivo ou depreciativo... Até porque o andamento que impôs durante bastantes quilómetros me merece todo o respeito!
Portanto, uma saudação valente à companheira betetista que veste as cores da Casa do Benfica de Almada e que se não estou em erro tem de graça o nome Tânia. Haja mulheres de fibra no meio de tanto homem! É um prazer pedalar com vocês...
Vemo-nos
por aí.
Abraçorros
Frederico
Nunes "Froids"
@2015
boas,
ResponderEliminartb estive em Tábua e julgo pelo vídeo que tenho do Trilho Pedra da Sé que o fizemos juntos, não sei se eras tu que ias a filmar ao o teu colega, se depois poderem partilhar esse video e eu o poder usar no nosso [url]http://kedasbike.blogspot.pt/[/url] agradecia.
tentei enviar uma mensagem no teu bolg que colocaste no forum btt, mas não sei se fui bem sucedido.
deixo aqui o video
[video=youtube;P80P5JHF1EQ]https://www.youtube.com/watch?v=P80P5JHF1EQ[/video]
desde já obrigado