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terça-feira, 2 de junho de 2015

9º BTT MK-MAKINAS, Tábua

Para mim, a aventura de Tábua começou na sexta-feira à noite, quando comecei a desmontar e montar o "novo" sistema de transmissão igual ao que irei levar para a Grande Rota das Aldeias Históricas.
Tudo lindo antes de testar. Na prática ficou uma bosta. E enorme!
Só Sábado às 15h da tarde é que tinha todos os problemas aparentemente resolvidos, mas não cheguei a sentar o rabo em cima do selim e testar tudo com carga. Asneira(!)

Arrancámos de Lisboa às 05h20 da manhã. Eu, a Sandra e o Carlos. Já em Tábua juntámo-nos ao Marco. Os quatro virgenzinhos no que tocava à mítica maratona de Tábua. Todos no entanto, sabíamos mais ao menos ao que íamos. E digo mais ou menos porque a prova superou em tudo as nossas espectativas. Foi simplesmente brutal.

Arrancámos juntos da Box1.
Nem tinhamos pedalado 500m e começo a ouvir um barulho estranho oriundo do meu novo desviador traseiro. Duzentos metros mais e acabo por avisar o Carlos que tenho que parar. O Marco e a Sandra também param e voltam para trás.
Não demoro mais de 2 minutos a corrigir o problema e a asneirada do dia anterior, mas com isso ficámos os quatro a pedalar sozinhos.

Libertou-nos um pouco os trilhos, mas foi a altura em que sofri mais para acompanhar os meus companheiros de aventura.
O Carlos percebeu o meu estado quando algures olha para mim e me vê a suar mais que num banho Turco. Mas lá encontrei o meu ritmo e lá descobri umas artimanhas para me ir safando até final. 
Descobri no Domingo que já não sei pedalar sentado. Já não estou habituado a fazer esse tipo de força. Fiquei a descobrir também que o que não subia sentado em 1x1, subia em pé em 1x3 ou 1x4(!) 
Raios parta a maluqueira. Subia melhor, com menos esforço, mais tracção, mais tudo!

Começámos a apanhar logo singletracks brutais um pouco depois do km20. Todos absulatamente fantásticos. Fluídos, técnicos q.b e mantidos e criados com dedicação. Um verdadeiro luxo quase todos eles.
A boa disposição do nosso grupinho foi sempre nota dominante.
Mas eu não conhecia nem a Sandra, nem o Marco.
A Sandra, disse-me o Carlos uns dias antes, precisava de boleia para Tábua porque tinha inscrição e estava apeada. Passámos nesse instante a ser três.
O Marco era amigo da Sandra e estava já em Tábua à nossa espera.
Revelaram-se companheiros cinco estrelas.
O Marco, bem o Marco nem sei se chegou a suar em alguma das subidas do dia. Apre que o rapaz é forte. E também desce bem. Pessoal mesmo sólido a andar. E a Sandra, ah pois a Sandra... A Sandra fez-me suar as estupinhas para me manter na roda dela durante os primeiros quilómetros da prova e mais não digo.

"Ah e tal, estou em baixo de forma..." - Dizia ela no início.
"Em baixo de forma, ela? Ainda bem, que se estivesse a tope tinha-me morto!" - Disse eu para o Carlos no final, meio a brincar meio a sério!

Mas que companhia excelente! Super divertida, sempre a curtir, mesmo um prazer conhecer! E com um daqueles andamentos "honestos" como a malta gosta. Rolava bem, subia melhor e descia como muito gajo com muito mais anos disto não desce!
O Marco é mais reservado e rolou quase sempre na frente do nosso grupinho. Isto depois do primeiro abastecimento.
Mas até lá e devido a uma paragem, dele e do Carlos, eu e a Sandra acabámos por rolar alguns quilómetros sozinhos e na cabeça do nosso grupo.

A determinada altura a Sandra diz-me, entre uma respiração e outra, que tinha novo objectivo para aquela prova...
Eu não percebi imediatamente o que ela pretendia dizer com aquilo até porque o objectivo comum previamente definido entre todos era única e exclusivamente "córtir os trilhos" da 9ª Maratona de Tábua.
Mas a nossa companheira de passeata já tinha avistado uma outra betetista, uns metros mais à frente, trajando equipamento do Benfica... 
A Sandra é do Sporting!

Ultrapassa-a sem cerimónias e pisa forte no pedal.
O novo objectivo da Sandra passou de imediato a ser terminar à frente da Gaja do Benfica. O principal mantinha-se, claro!
Quando chegámos ao primeiro abastecimento ainda estivemos uns minutos à espera do Carlos e do Marco. Os suficientes para a Sandra ainda me deitar esta frase:

"Ou nós estamos muita fortes ou eles estão muita fraquinhos!"

Eu nem sabia bem o que pensar naquela altura...
Sinceramente, quando ali parámos eu já tinha encontrado novamente um ritmo tranquilo e vinha bem, mas a miúda trazia mesmo o diabo no corpo. Passámos por malta a subir com uma bolina como há muito que não me acontecia. Muita bom! E à medida que o tempo e os quilómetros iam passando, eu ia redescobrindo o prazer que também existe em andar com sistemas de mudanças. Mesmo com uma K7 gasta e a saltar como eu trazia a minha...

Neste primeiro abastecimento havia de tudo, inclusive um rancho folclórico com pessoal trajado a rigor e vinhaça para acompanhar as febras e entremeadas que estalavam no grelhador.
Mas no meio daquela azáfama toda e ainda antes dos nossos amigos, havia de chegar a Gaja do Benfica.
E acabou por arrancar ainda eles não tinham acabado de dar o primeiro golo no copo de tinto.
Percebi que a Sandra mantinha a dela fisgada e quando arrancámos deste abastecimento sabia, nem sei bem porquê, que ela não haveria de descansar enquanto não voltasse a ultrapassar a outra moça. Sem conhecer bem a Sandra, fiquei com a ideia que ela não iria desistir assim tão facilmente.
Tal acabou rapidamente por acontecer.
Quando a ultrapassámos novamente meti-me com ela e disse-lhe: Então, mais contente?!
Ao que ela me responde algo do género: "Só quero ficar à frente dela. Só quero ficar à frente da Gaja do Benfica"...

Foi quando percebi que era mesmo corrida que iríamos ter!
Até porque a determinada altura, vislumbro a roda dela a chegar-se à roda da Sandra. Ambos percebemos às claras que a Gaja do Benfica não ia dar aquela vitória à Sandra de mão beijada. Iria haver luta. Ela picou-se quase de certeza, deve-nos ter ouvido ou assim. Mas nunca nos ultrapassou, esperta!

No abastecimento seguinte estavam já parados o Carlos e o Marco na palhaçada com a malta da organização.
Nós paramos também. A adversária directa da Sandra não. E esta estratégia fez com que demorássemos imenso tempo a reencontrá-la.

Durante esse intervalo na "corrida", fomos apreciando os trilhos, as paisagens, o pessoal da organização em todos os muitos pontos de água e abastecimentos que tivemos, toda a envolvência com a população e acompanhantes dos atletas, que é qualquer coisa de incomparável. Toda a prova e magnitude da "coisa" é magistral.
Mas os trilhos, os trilhos é que são qualquer coisa do outro mundo! Já me repeti? Não faz mal, poderia repetir-me a noite toda que não lhes faria a devida justiça. Um grande trabalho que é visita obrigatória na carreira de qualquer betetista que se preze, sem sombra para dúvidas.

Toda a nossa participação foi pautada pela descontração e boa onda. Esta última chegou mesmo a acontecer enquanto estivemos parados num dos trilhos mais emblemáticos e onde estava concentrado um elevado número de pessoas a assistir à prova, envoltas num cenário idílico.
A páginas tantas dou com a Sandra a puxar pela malta e acaba mesmo por conseguir fazer a "onda" com muita daquela gente. Foi fixe de assistir e vivenciar e serve para perceberem o espirito com que íamos a levar a "cenaça".
Nesta altura deduzo que o modo "RACE" ia em lume brando na cabecinha da Sandra. Os trilhos que se iam mostrando à nossa frente eram absolutamente alucinantes e dignos de total entrega. Quer pela sua beleza, quer pela sua tecnicidade. E ainda por cima tivemos a sorte de poder fazer alguns deles livres de grandes paragens e assim apreciá-los completamente. Um luxo!

O Carlos e o Marco rolavam ora connosco ora uns metros à nossa frente, sempre mais fortes que eu e a Sandra. Mas formámos um grupinho muito coeso e mantivemos um ritmo relativamente bom durante todo o percurso. Ritmo de passeio "rápido", como disse a Sandra.
Basicamente, eu nem tive direito a cigui, por mais vontade que tivesse. Se parasse, perdia o combóio! E não iria fazer o combóio esperar por causa deste meu vício estúpido.

Chegamos a mais um abastecimento. E neste abastecimento ficamos a saber, entre meia banana e mais um quarto de laranja, que a Gaja do Benfica seguia um minuto ou dois à nossa frente, junto com o restante grupo do pessoal da Casa do Benfica de Almada do qual fazia parte.

A Sandra arranca disparada ainda eu nao tinha comido a laranja toda!

"Vou andando! Vocês já me apanham!" - Larga para o ar, sem olhar para trás, enquanto se lança a fullpower aos trilhos, de alento completamente renovado.

RACE Mode back on!

Jogo a embalagem do gel vazio para o lixo e agarro na bike. Seguimos os três a todo o gás até apanharmos novamente a Sandra, um quilómetro ou dois mais à frente. O Carlos e o Marco passam-na na bolina, numa subida com alguma areia e que me obriga a desmontar devido a erros de trajectória, falta de tracção e de prática no manejo das mudanças. Tudo junto e este artista acaba a meter o pé no chão e desmontar antes de terminar a rampa que tinha pela frente. 
Apear com estes meninos é sinónimo de muitos metros de distância que se ganham quase de forma instantanea.
Não me consegui montar logo e sou obrigado a terminar a rampa a penantes. Quando lhe ganho o topo já não vislumbro os meus companheiros. Sozinho quebrei um bocadinho o meu ritmo e custou-me voltar a embalar.
Só fui espevitar novamente um quilómetro ou dois mais à frente quando me chego à roda da Gaja do Benfica. Pelo ritmo lento e quebrado que trazia ainda pensei que não fosse a mesma rapariga, mas quando me cedeu passagem, percebi que sim.
E percebi também que a Sandra e o resto do pessoal também já teriam passado por ela. E acordei novamente para a vida!
Sabia que ela, a Sandra, não iria agora dar descanso e não se iria deixar apanhar novamente, pelo que, seu eu pretendia chegar novamente à roda dela, teria que me aplicar e andar mais do que ela estava a andar, como mínimo.
Mas sozinho essa tarefa revelou-se mais complicada de fazer do que de pensar. As subidas tinham dureza e algumas também tinham técnica à mistura e muitas delas pouca tracção. Em grupo minimizam-se os esforços. Sozinho, tudo parece mais inclinado, maior, interminável...

Mas acabei por avistar a Sandra, sozinha, a uns escassos metros de mais um abastecimento. Fiquei depois a saber que iriam esperar ali por mim.
Gostei do gesto, e fiquei sentido, mas não comentei. Que bom grupo que se juntou. Tudo pessoal com valores que eu aprecio muito. Fiquei mesmo contente. O espirito do nosso grupinho continuava em altas! Sempre bem dispostos, a rir e a desfrutar de tudo o que havia para desfrutar.


Felizmente não os fiz esperar quase nadinha e apesar de naquela altura estar mais cansado do que seria normal, tinha conseguido ganhar-lhes algum terreno e isso deu-me alento novamente. Aliado ao que comentei acima, apesar de já sentir nas pernas algum cansaço, fiquei com a moral renovada.
Mais umas águas para dentro, umas águas para fora e fazemo-nos novamente ao caminho!

Daqui para a frente faltava pouco, cerca de 15kms sensivelmente. Mas que não foram completamente fáceis. Algumas pistas boas a descer e a subir, mas essêncialmente caminhos exigentes, todos eles, de uma forma ou de outra. Só mesmo para o final se rolou um bocadinho de forma mais solta.
O resto foi "serrote", sempre.

Começamos a dobrar companheiros mais atrasados, provenientes da meia maratona e a determinada altura, avistamos dois rapazes parados, cada qual de seu lado de um singletrack já por si estreito, após uma zona algo complicada.
Vinham desmontados porque o trilho era demasiado técnico para eles. 
A Sandra faz tudo bem, mas quando chega à beira dos rapazes, desequilibra-se e dá um toque num deles que, desamparado, cai estatelado no buraco que havia atrás dele.
Mas caiu de uma forma absolutamente genial.
Ao toque da Sandra, e ao perceber que já tinha perdido o equilíbrio e que já nada podia fazer para impedir a queda, abre muito os olhinhos e a boca, tem ali um segundo ou dois de espanto e depois cameça a rir enquanto cai, quase em camara lenta. Mas rir a bom rir!
O rapaz estava exausto e caiu também em parte devido ao cansaço.
Mas a cena foi simplesmente hilariante. Ele caiu em cima de um tapete de folhas como se tivesse caido numa cama, mas ficou de pés para cima e cabeça para baixo. E no meio das pernas, a bicicleta.
E ele ria! O amigo dele também.
Ajudei-o a sair dali enquanto a Sandra se desfazia em desculpas! Mas os rapazes mantinham uma onda brutal! Grande moral... O que ficou a conhecer a Sandra em primeira mão, em momento algum ficou chateado ou levou a mal. Só se ria.
E no final ainda nos disse: "Bem, uma estava guardada!" (Referia-se a quedas enquanto continuava de sorriso na cara!)

Os quilómetros finais foram feitos mesmo em grupinho, juntinhos, tipo Quarteto Fantástico! E foi assim que cruzámos o arco de meta no final desta aventura, porque nem poderia ter sido de qualquer outra forma.
O dia foi brutal, amanhecendo algo fresco para ir aquecendo durante o dia, proporcionando um bom dia para pedalar. As paisagens e os trilhos foram espectaculares e dignos de registo por si só, a organização esteve bem em todos os aspectos. Tudo esteve muito bom, mesmo excelente.

Mas, para mim e de forma inquestionável, o melhor do dia foi mesmo a companhia!
Obrigado por aturarem este magrela e por me deixarem rolar com vocês! Foi, é e será sempre, um privilégio!

Para aquele pessoal que ler esta crónica e não conhece e que de alguma forma pondera participar nesta maratona, nem pensem em ir com outro espirito que não seja o de "Córtir os Trilhos". Tudo vale a pena e merece ser apreciado sem grandes pressas. Vão e desfrutem! É só isso que tenho para vos dizer. Certamente que não se irão arrepender.
No entanto, alguma preparação física é recomendável, porque aos ~1500m D+ de subidas terão que acrescentar a dureza das descidas o que perfaz desta uma prova com alguma exigência física e técnica. Mas que se recomenda vivamente, e que vale cada gota de suor que se deixe naqueles trilhos.

Em resumo, um dia a par com alguns dos melhores dias que já passei a pedalar durante os meus 15 anos de bicicletas.
E certamente e sem cerimónias, um dos mais divertidos!

O track do percurso irá para a pasta "Tracks GPS" assim que possível.
O vídeo da aventura está em processo de edição. Conto tê-lo pronto até Quinta-feira, o mais tardar.

Há por essa internet fora várias fotos nossas. Á medida que as for encontrando ou mas forem cedendo e mostrando, vou actualizando esta posta com algumas que valham a pena!


Nota de rodapé: 

Se a Gaja do Benfica por ventura ler estas linhas, que não leve a mal o facto de ser tratada por "Gaja". O termo é carinhoso e de forma nenhuma pretende ser diminutivo ou depreciativo... Até porque o andamento que impôs durante bastantes quilómetros me merece todo o respeito!
Portanto, uma saudação valente à companheira betetista que veste as cores da Casa do Benfica de Almada e que se não estou em erro tem de graça o nome Tânia. Haja mulheres de fibra no meio de tanto homem! É um prazer pedalar com vocês...


Vemo-nos por aí.

Abraçorros
Frederico Nunes "Froids"
@2015


1 comentário:

  1. boas,
    tb estive em Tábua e julgo pelo vídeo que tenho do Trilho Pedra da Sé que o fizemos juntos, não sei se eras tu que ias a filmar ao o teu colega, se depois poderem partilhar esse video e eu o poder usar no nosso [url]http://kedasbike.blogspot.pt/[/url] agradecia.
    tentei enviar uma mensagem no teu bolg que colocaste no forum btt, mas não sei se fui bem sucedido.
    deixo aqui o video

    [video=youtube;P80P5JHF1EQ]https://www.youtube.com/watch?v=P80P5JHF1EQ[/video]

    desde já obrigado

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