Páginas

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Maratona BTT SERRAd'AIRE

"Sabias ao que ías!"

Esta frase deveria resumir a minha aventura de domingo passado por terras de Ourém.

Deveria, porque na verdade há mais a contar para que ficais devidamente elucidados. Será preciso contar que teve subidas, teve descidas, teve calor. Também teve singletracks de cortar a respiração. Teve calor. E pedra, também teve muita pedra. Pequenina, média, maiorzita, calhau, pedregulho. Teve pedra de todos os tamanhos, feitios, cores e derivados. Aguçadas como navalhas ou arredondadas nas arestas!
Muita pedra. E muito calor!

Sessenta quilómetros de trilhos absolutamente fabulosos, duros, técnicos e muito exigentes. A Serra d'Aire não perdoa nenhuma desatenção e exige sempre dos pilotos e máquinas uma entrega a 100%. Se a minha máquina não falhou, já do piloto não se teçe melhor comentário.

Mas vamos dividir a coisa por partes. 


A primeira parte, da partida ao km 30;


Arranque maluco - a mil à hora - no primeiro terço do pelotão para depressa ficar a pedalar no último terço do mesmo. O inicio foi plano durante uns minutos, comigo a tentar acompanhar a cadência da malta, sem grande sucesso, diga-se, mas depois empinou um bocadinho até entrarmos na linha de éolicas sobranceira à povoação de Bairro, pequeno povoado onde teve inicio a maratona.

Devido às altas velocidades do restante pessoal e que eu não consigo acompanhar, perdi muito tempo em relação à malta que rolava para a distância maior e como ainda por cima fiquei parado no engarrafamento para o primeiro singletrack do dia, quando cheguei à divisória dos dois percursos já só tinha dois ou três companheiros atrás de mim que também iriam para a distância maior.
Mas até este ponto, além de uns singles engraçados nada houve de extraordinário. Depois da divisão dos percursos a conversa mudou radicalmente de figura.
Toda a dureza da Serra d'Aire e dos típicos trilhos da zona e que eu conheço relativamente bem deram-me um tratamento completo, se assim se pode dizer. Mas também só deram, porque eu pedi.
Pedi porque, após a viragem para o percurso da maratona, sabendo que o rapaz a quem prometera companhia para o percurso rolava mais à frente, sabendo que só podia ganhar terreno nas subidas e nos trilhos mais técnicos e sinuosos tão ao meu gosto, foi com vontande que me apliquei nos cranks, empurrando os mesmos com toda a força que tinha, mas acabei por ter que ceder e baixar o ritmo, sensivelmente ao Km 30, com caímbras em ambas as pernas(!). Primeiro na esquerda, depois na direita, uns quilometros mais à frente.



A segunda parte, do Km 30 até final;


Desse momento em diante sabia que iria sofrer até final. Não que não viesse a sofrer já, mas iria ser um sofrimento diferente, mais doloroso. Para ajudar à festa, trazia uma dor parecida com a dor de burro, mas do lado esquerdo, que não me deixava rolar e/ou descer depressa. Devido a todas as pedras e solavancos tinha que andar muito devagar porque me doia imenso. A determinada altura comecei mesmo a ficar preocupado, mas depois acabou por atenuar e para o final já não exisita. Mas existiam duas pernas completamente vazias desde o Km35, mais coisa, menos coisa.
Acabei por encontrar o companheiro que procurava, parado a meter ar no pneu traseiro. 

Parei e voltei para trás. 
Como estava tudo bem e nem furado estava acabei por seguir, novamente sozinho, mas convencido que ele me iria apanhar num instante. Baixei ainda mais o ritmo que trazia e fui pedalando tranquilamente.
Pouco depois encontro um outro companheiro a empurrar o seu tractor de roda 29" (que devem ter dado um jeitão naqueles trilhos). Abrandei e perguntei se estava tudo bem.

Com ele sim, com o pneu da frente é que não! Estava furado.
Não parei, segui. E segui porque ele me respondeu que não tinha camara porque não levara nenhuma. Nem bomba, nem nada... Epá, pois(!)...
A determinada altura chego-me a um outro companheiro que vinha a enfrentar problemas com as suas mudanças traseiras. Rolámos uns bocados juntos e encontrámo-nos mais algumas vezes a fazer a mesmas subidas a pé.
Ele só me dizia "Epá vou desistir, epá vou desistir..." Mas lá ía continuando.
Aparentava ser conhecedor da zona. Fiquei com ideia que nunca chegou a desistir pois cruzamo-nos no final da última grande rampa antes da descida para o Vale Garcia e ele seguiu adiante à minha frente.

Eu, quando cheguei ao marco geodésico de Goucha Larga vinha completamente esgotado. Naquele sítio estratégico, com umas vistas fabulosas, fiz uma paragem à Froids, com direito a Cigui e tudo!
E se ali houvesse uma barraquinha a vender gasosas, nem sei se sairia dali.
Acabou por passar o meu amigo junto com outro companheiro e uns minutos mais tarde chega o Bike Vassoura!
Sabia que faltava pouco para o final, mas tinha a vaga ideia que a descida íria ser muito exigente e técnica. E não me enganei. Abençoada paragem. No entanto continuava demasiado cansado para apreciar como merecia o renovado singletrack do Vale Garcia, mas ainda assim curti que nem um maluco. Mas melhor para mim esteva a Sauna do Javali. Fluído e brutal!
No final da descida ainda tive tempo para dois dedos de conversa com a malta de apoio que lá estava a dar água. E souberam-me pela vida eheheh pois já tudo era desculpa para parar uns minutos.
Pensava sinceramente que os outros dois companheiros que tinham passado por mim no marco chegariam muito antes de mim ao final, mas voltei a apanhá-los numa subida algures. Desmontei também, mas não por solidariedade, e seguimos os três apeados durante um bocadinho.
Eu voltava a montar quando podia e numa dessas situações acabei por deixar novamente os dois companheiros para trás. Sabía que lá vinha o homem da Vassoura (o da Marreta levava-o comigo) por isso estavam bem entregues e preocupei-me apenas em arrastar o meu proprio esqueleto até final.

E justo quando achava que era o final.... Naaaa, toma lá mais 1,5km para abrires os olhinhos.
Sendo sincero, pensei em dar meia volta e ir acabar rápido com aquele martirio dando um tiro certeiro dali até ao arco de meta, mas depois controlei-me e lá fiz o último singletrack do dia, o qual me ía matando(!)

Conclusão;

Lá me consegui arrastar até à meta, inteiro, para ficar a saber que eramos três singlespeeders em prova, mas que apenas eu tinha ido para a distância maior, anunciou o Speaker de serviço, também ele adepto das bikes de um só carreto. 
Daí que, apesar de ser o 3º a contar do fim, fui 1º no escalão "Singlespeed"! 
Cena marada :)
Quase tão marada quanto a carga de porrada que levei daquela pedra toda!
Tratamento completo, mesmo. Alma cheia de BTT do bom, boa camaradagem e empeno ao mesmo nível.

Para quem gosta do tipo de terreno, recomendo vivamente. Mas ide fortes! 
E de preferência, se puderem, escolham dias com temperaturas abaixo dos 33º!

Em relação à organização, nada a apontar. Estiveram muito bem na distribuição de água em variadíssimos pontos do percurso, sempre pessoal nos cruzamentos com estradas asfaltadas e boa organização no geral. Talvez devido à dureza da prova, uns abastecimentos mais ricos fossem bem vindos. No entanto tiveram o essencial e estavam nos locais certos. 

Obrigado a todos pelo apoio e boa disposição! 

Esperem pelo vídeo, que melhor que qualquer crónica é a minha tromba de empenado escarrapachada no ecrán. Podem-me gosar para todo o sempre, não faz mal, que vocês se lá fossem também iam empenar eheheh

Video em processo de edição... Volta mais tarde. Talvez amanhã ou assim!


Track GPS no sitio do costume...


Vemo-nos por aí!


Abraçorros
Frederico Nunes "Froids"

@2015

1 comentário:

  1. Confirmo a dureza.
    Fui para os 35km e foi a prova mais dura que já fiz! Raios partam a pedra!
    Espectacular o Vale Garcia e o Javali. :)

    ResponderEliminar