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terça-feira, 13 de janeiro de 2009

ICE Climbing – Winter Season officially open…

Nas notícias da televisão os alertas eram constantes.
As previsões apontavam para a possibilidade da queda de neve inclusive em Lisboa! Uma vaga de frio glaciar trazido por uma tal frente Polar que se desloca sobre esta zona do hemisfério assola o país e toda a Europa.
No final da noite outra notícia explode em simultâneo em todos os canais noticiosos da TV. As estradas de acesso ao maciço central da Serra da Estrela estavam cortadas. Muitas outras encontravam-se de alguma forma condicionadas pela neve e pelo gelo. Auto-Estradas, estradas principais e estradas secundárias um pouco por todo esse Portugal fora estavam intransitáveis deixando mesmo algumas povoações isoladas…
Nós iríamos sair às 05h30 da manha de sábado direitos à Covilhã e à Serra da Estrela para um dia de escalada em gelo e para uma passeata na montanha com excelentes previsões para tal.
Seria impossível não termos tentado a sorte e de alguma forma termos abortado os nossos planos.
Ainda bem que não o fizemos pois foi sem problemas que chegamos à cidade da Covilhã. Devagarinho, fomos subindo até às Penhas da Saúde e parámos no cruzamento de Piornos, pois aqui a estrada estava fechada barrando o acesso à Torre e ao topo da Serra.

Estrada cortada. La se vai o acesso mais curto…
Colocámos correntes e descemos até ao Covão da A metade para subir depois ao Covão Cimeiro e daí à base dos grandes corredores onde esperávamos encontrar algumas cascatas de gelo bem formadas e "em condições"…
O nevoeiro era intenso e foi-se agravando durante o decorrer do dia. A temperatura esteve sempre muito baixa, sempre negativa. Um dia muito pouco convidativo a passeatas na montanha, mas como nós íamos para escalar o tempo que fazia não seria grande problema.


O Covão da A metade pela manha…
Luís a subir desde o Covão Cimeiro
No entanto o nevoeiro nunca nos deixou ver o suficiente para encontrar a cascata que pretendíamos, nem tão pouco outras em melhores condições do que as que escolhemos, mas para brincar um pouco encontrámos duas que nos deram para desfrutar um bom bocado.
Eu e o Luís montamos uma primeira reunião para escalarmos em top a primeira cascata, demasiado fina para levar com material e demasiado quebradiça, viríamos constatar depois das primeiras marteladas. Montou-se uma reunião na rocha com três friends, permitindo assim escalar confortavelmente em molinete, ou top-rope, e treinar e aquecer um pouco pois seria a primeira escalada desta época!
O Luis foi o primeiro e rapidamente nos apercebemos que o gelo não estava nas melhores condições, muito quebradiço e com muita água ainda. Nao tinha ainda fundido, ou seja transmitia muito pouca segurança. Mas dava para escalar e na maioria das situações o gelo não está como se gosta, por isso não fez grande diferença.  A cordita "por cima" permitiu brincar à vontade sem stresses de maior.

Ricardo dá segurança ao Luis
Eu escalei a seguir ao Luís. Depois o Ricardo e por fim o Jorge que iria ter a sua primeira experiência com escalada em gelo. Aliás era a sua primeira vez na montanha numa actividade de inverno. Piolet, crampons, parafusos de gelo, tudo era novo para o Jorge.
A cascata era pequena, não tinha mais que dez metros de atura pela que foi rápido até o Luis voltar a fazer uma segunda escalada.
À semelhança dele, eu também me lancei numa outra tentativa que correu bem melhor que a primeira, pelo simples facto que já não tinha umas luvas com as quais já nao devia ter escalado logo da primeira vez. Demasiado grossas e completamente geladas e rijas impediam-me de segurar os piolets de forma correcta, sem elas e de tarefa facilitada, a escalada soube muito melhor, correu-me melhor e deu-me o alento necessário para abrir a segunda cascata do dia.

Luís na sua segunda escalada
Eu escalo enquanto o Luís me dá segurança
Ricardo bem colocado
 
Depois de todos terem feito a sua segunda subida, fomos para uma outra cascata, não vertical, apenas com um pequeno ressalto com uns dois metros de altura, formada em degraus, mas já com espessura suficiente para um ou outro parafuso de gelo.
Por isso e depois de analisadas as coisas com o Luís optámos por retirar a corda depois do Ricardo ter rappelado para a base, deixando a via limpa, obrigando a uma abertura desde baixo, colocando material de auto-protecção como os parafusos de gelo, as fitas dissipadoras de energia para passar a corda, por fim a montagem da reunião final e descer novamente.
O Luís vai de primeiro e depois de colocar uma proteção no gelo não consegue resolver a viragem do degrau. Passar de terreno vertical para uma plantaforma horizontal não é tão simples como possa parecer à primeira ideia. É preciso saber como fazer e depois ter a agilidade para por em prática… É um passito de atitude, mas ter boa agilidade é muitíssimo importante.

Eu na abertura da segunda cascata…
 
Depois de duas ou três tentativas o Luís desce, derrotado mais pelos nervos que pela dificuldade do passo. Sigo eu…
Passo a corda no mosquetão colocado pelo Luís. Malditas luvas, congeladas tornaram a simples tarefa de clipar – passar as cordas por dentro do mosquetão – uma verdadeira batalha. Ao fim de algum tempo lá consegui. Subo um pouco, faço-me à dobragem daquele angulo recto, uma escorregadela e estou de novo na plataforma inferior. Respiro fundo, volto a fixar ambos os pés na vertical gelada, os piolets cravados fundo no gelo, subo mais um pouco, piolets o mais afastados possível, subir os pés de novo, primeiro o esquerdo o mais alto possível, logo depois o direito e um segundo depois estou na plataforma superior!
Enterro um parafuso num pedaço de gelo encaixado entre dois grande blocos de granito, sondo a passagem do segundo ressalto, mais pequeno que o anterior, mas com neve fresca apenas cobrindo a rocha. Sondo mais um pouco e là encontro uma maneira de entalar o piolet, conseguir algum apoio e… siga que para cima é que é caminho.
Mais um parafuso num gelo de qualidade duvidosa, uma reunião provisória e está feita!
Entretanto o Luís e o Jorge surgem no topo, trazendo os meus friends retirados da reunião anterior e montam uma à prova de bomba para o Ricardo subir e desmontar o material colocado por mim.
 
Ricardo a retirar o material colocado por mim…
 
Depois disso e como tinha começado novamente a nevar, o vento e o frio eram cada vez maiores, rumámos novamente ao Covão Cimeiro através do nevoeiro e seguindo um azimute mental que tinha tirado durante uma aberta na densa cortina branca que nos envolvia. Dali ao Covão da A metade tivemos o caminho facilitado devido ao rasto ainda visível da marcha de outros aventureiros que naquele sábado davam vida àquele deserto branco.

A caminho do Covão Cimeiro
 
O regresso a Lisboa foi rápido e tranquilo, embalado em conversas lembrando outras escaladas, outras aventuras, projectando outros sonhos e ambições, novas aventuras e desventuras…
Ao chegar a casa lembro-me de pensar: Ainda bem que fomos !
 
Para ver a galeria de fotos completa segue este link: Ice Climbing # Serra da Estrela

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