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sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

La Covatilla, solamente…

Estado da neve...
A ideia não era louca, mas tão pouco era provida de muita razão e sensatez…

Como planeado para esta viagem levava apenas uma vontade quase incontrolável de fazer uns dias de snowboard, comer apenas o necessário e dormir algures enterrado no meu quente saco-cama no meu hotel privado, a minha fiél skoda.

Dentro da mochila levava além de uma muda de roupa, uma meias quentes e o material de snow, o meu fogão de montanha, chá, açucar, bolachas, leite com chocolate e nada mais. Estas rações serviriram apenas para pequeno-almoço e lanche e para tal chegavam sobejamente!

Era para ir surfar na neve que ia e não para me banquetear com os prazeres da gastronomia portuguesa ou local. Logo haveria de arranjar algo de comida mais a sério para jantar. Almoçar seria uma sandes na estância, um daqueles bocadillos espanhóis que dá sempre para duas refeições, com queijo e salpicão, mais uma coca-cola e café para rematar. Já quase lhes podia sentir o sabor!

A viagem de quatro horas e meia fez-se à velocidade da luz e dos sonhos enquanto o sol ia descobrindo o seu caminho por entre brechas de nevoeiro cerrado que aqui e ali teimavam em surgir.

Perto das 10h00 chego a La Covatilla, pequena estância de ski enterrada na fria serra de Bejar de cujo ponto mais alto se avistam os cumes nevados do Almanzor e restantes agulhas da serra de Gredos, perdida algures no centro da vizinha Espanha…

A estância em si é muito pequena para quem está habituado a Andorra, Pirinéus e tal, mas é pertinho de casa e largamente superior à ridicula estância da nossa serra da Estrela. No entanto, dois ou três dias são suficiente para desfrutar de toda a superficie esquiàvel que La Covatilla tem para oferecer. As pistas são poucas e curtas, mas o fora-de-pista ou "freeride" tem também o seu espaço, pequeno é verdade, mas capaz de fazer as delícias de quem gosta de snowboard. Neve virgem, fresca, saltos, drops, pedras… Tem tudo o que é preciso mas em ponto pequenino, infelizmente!

O primeiro dia de snow acabou à hora de fecho da estância, 16h30. Às 17h30 estava no carro com o material arrumado e pronto a encontrar o local ideal para passar uma noite apenas, que sabia fria, e que acabou por ser encostado à Ermida de Navacarros, depois de muitas voltas em estradas de montanha a tentar encontrar local mais abrigado e em simultâneo mais isolado para que conseguisse uma noite relativamente tranquila. Não encontrei melhor e o local algo frequentado que escolhi obrigou-me a um maior sobresalto, mas nada que o cansaço de um dia inteiro de snowboard nao vencesse.

Durante este tempo a temperatura nunca subiu acima dos -2ºC, chegando mesmo a nevar forte durante algum tempo.

Enterrado no meu saco-cama fui assistindo àos minutos a passarem, ao vidro do carro a gelar progressivamente até criar uma capa de dois milimetros de espessura, os flocos de neve a acumularem lá fora e em cima do meu hotel, e assim me fui arrastando em pensamentos sobre o dia de amanha, de como iria sair dali se não parasse de nevar com aquela intensidade, em como seria bom ao mesmo tempo se continuasse a nevar assim para que houvesse melhor neve amanha.

Inevitavelmente acabo por me render ao sono e acordar perto das 09h30. A nevada que tinha caído não tinha sido grande como esperava e apenas algumas zonas mantinham ainda vestigios recentes. O vento tinha aumentado de intensidade, assim como o frio.

Depois de pequeno almoço tomado, era hora de rumar de novo ao topo da serra de Bejar e a La Covatilla. Depois de uns metros a circular o termómetro do carro actualiza-se, marca agora -4.5ºC! Porra, que está frio!

De Navacarros a La Covatilla a distância é pouca mas demorou uma eternidade devido às péssimas condições em que se encontrava a estrada de acesso. O uso aconselhado de correntes não era em vão, mas apesar de as levar comigo, nunca parei para as colocar. Como eu, seguia uma fila de carros devagar, patinando aqui e ali, sempre subindo em curvas apertadas que trepam à serra impiedosas, rasgando aquela paisagem branca e brilhante.

Uma das opções inciais de dormida tinha sido mesmo aqui, no parque de estacionamento da estância. Às 10h30 da manha o termómetro marcava -5º e o vento lá fora rugia cada vez mais forte. Dormir aqui tinha sido uma idiotice e em boa hora desisti da ideia. Não faço ideia a que temperatura tenha chegado o local, mas pelo estado geral, diria que fez mesmo muito frio!

Olhando as condições gerais, sabia que iria fazer frio, muito frio lá em cima no topo das pistas e preparei-me para tal. Quando deixei o carro ia preparado para o frio, mas ainda assim posso dizer que apanhei muita porrada nas telessillas. Sempre que subia de novo era um gelo e para o final da tarde nem as descidas, ou runs, algumas mesmo a abusar me faziam aquecer o corpo, pelo que às 15h30 estava de novo no carro, a preparar o regresso a Lisboa.

O céu azul cristalino da manha cedeu lugar ao intenso nevoeiro que já ontem tinha vindo marcar presença da parte da tarde. Tão cerrado que esquiar era uma missão assustadora. Não se via pedras, bossas, drops, nada…  Os pontos de referência era nenhuns e as lentes alaranjadas dos óculos transferiam ao cenário um ar de total surrealismo. Apenas o som do ceder da neve sob a prancha e a música debitada pelo leitor de mp3 me trazia agarrado à realidade.

Mais ou menos desde as 14h00 que esquiar fora-de-pista estava fora de questão, a visibilidade era zero e pelas 15h00 os meios mecânicos de acesso ao topo das pistas foram encerrados por segurança, ficando apenas a telecadeira principal em funcionamento, porque mesmo nas pistas estava muito dificil.

Ainda fiz mais umas três runs e baixei ao carro!

As horas de regresso ao volante do meu hotel passei a sonhar com outras aventuras, noutras montanhas, já com companhia e kilómetros de freeride e neve virgem à mercê da minha snowboard… Céu azúl cristal, o ar seco e frio a entrar pelas narinas queimando os pulmões, o vento gelado batendo na face, a neve sob a prancha, a risada de um companheiro, a cambalhota de uma amiga, mais neve sob a prancha, flutuar no ar, adrenalina, medo, coragem…

Como é bom fazer snowboard!

Como é bom sonhar!



Telesilla La Covatilla. A tal em que se congelava…


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