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domingo, 6 de setembro de 2015

Maratona BTT Mafra80

A logística parecia quase impossível.
A Sandra e eu, dois miúdos e um cão. Tudo junto com uma bicicleta e mais duas mochilas além do material de BTT da Sandra. Tudo mais ou menos arrumado dentro da minha caixa com rodas.
Quando fechamos a porta traseira da carrinha a Sandra diz-me: É oficial. Tens o carro cheio!

E pelas 07h45 estavamos a sair de casa para uma aventura que jamais irei esquecer.

E eu nem pedalaria!
Logo Domingo que é sempre - ou quase sempre - dia de BTT. E neste caso, seria o dia da maratona de Mafra, para ser mais preciso. Mas não iria pedalar e não o iria fazer por decisão pessoal.
Ficaria responsável, apenas e só, por tomar conta dos dois miúdos da Sandra, de ir com eles ver a mãe passar em 4 ou 5 pontos dispersos ao longo de um percurso de 80kms e nestes pontos tirar algumas fotografias à malta que ia passando para mais tarde se recordar.
Se isto dito assim parece relativamente simples, na prática não foi assim tanto.

A Maratona Mafra80 é organizada por malta conhecida da Sandra e, devido a isso, amigos e conhecidos estavam um pouco por todo o lado.




O pouco tempo da manhã que nos sobrou desde que chegámos e estacionámos o carro, até ao toque do sino da partida passou num ápice. E à medida que a Sandra se ia preparando, eu ia-me ambientando ao que seria a rotina do meu dia.
Arrancamos para a zona de meta e a Sandra rapidamente se integra naquele ambiente que eu tão bem conheço mas que nunca tinha visto daquela perspectiva de espectador. Fotografia para aqui mais fotografia para ali e ia matando as saudades que também tinha de fazer retratos com uma máquina decente! Mas tinha que me manter concentrado em não perder nenhum dos putos, não perder o cão nem deixar este arrastar com ele nenhum dos catraios!




O excelente ambiente que se vive é propicio à enorme quantidade de sorrisos que se vêem por todo o lado, mas por debaixo destes, o nervoso miudinho da Sandra e dos restantes atletas era facilmente perceptível.
A Sandra iria fazer a sua estreia em provas deste género, pedalando o percurso maior, sozinha.
Iria estar entregue a si própria nesta aventura. Uma corrida contra o seu intimo e contra duas ou três adversárias que ambos sabíamos difíceis de ultrapassar.
Com o aproximar da hora, eu e os miúdos acabamos por a perder de vista no meio de todos aqueles que se juntam na manga da partida.
O sino de partida ouve-se nas escadas às portas do Convento! As quase quatro centenas de participantes arrancam direitos à Tapada de Mafra e dão-se inicio às hostilidades.




Nós os quatro deixamos o último atleta passar por nós e arrancamos direitos ao primeiro ponto onde poderíamos ver a corrida passar. E esperamos não mais que cinco minutos até aparecerem os primeiros atletas, agrupados, a uma velocidade imprópria para cardíacos. Esperamos mais um pouco sem eu conseguir precisar quanto.
Vou tirando fotos enquanto a malta vai passando, parecem motas, uns em grupos maiores, outros em grupos mais pequenos ou mesmo sozinhos. Passa o Rui Fragoso, passa o Edgar e o Vitor do CSSPF, o André e o Jorge Pedroso... Vou vendo passar amigos e muita malta conhecida e de repente passa a Filomena, uma das principais adversárias da minha companheira! Ou mesmo “A” adversária da Sandra, porque todas as outras são mera “paisagem” e não são pária para a minha Pitufa!
Desperto e largo as fotografias por momentos. Três ou quatro minutos e surge a Sandra. Vinha em segundo, bem classificada na geral e a uns escassos minutos da sua referência no desporto.
Grito-lhe a sua posição e o tempo que as separa e trato de me enfiar no carro! Os miúdos nem de lá tinham saído junto com o patudo. Estávamos parados à beira da estrada de asfalto, num local pouco interessante de paisagem ou para fotografias.
Afino o GPS para o próximo ponto onde poderíamos encontrá-la e tirar umas fotos em condições. Ponto esse localizado quase no final da subida de Montesouros, a primeira subida dura do percurso e que iria surgir ao km 11, sensivelmente.
Aí chegamos rapidamente, mesmo a tempo de ver passar novamente os primeiros e logo depois outros, e mais outros, incluindo quase toda a malta amiga que está forte e a andar bem.






Vou tratando de incentivar a malta que conheço enquanto lhes saco uns sorrisos que imortalizo em retratos!
Invariavelmente a primeira mulher que avisto é a Mena, a trepar os metros finais daquela subida, forte e de andamento sólido, tipo máquina! Bum, bum, bum, bum, martelava os pedais rampa acima e passa por mim tipo foguete, sem levantar os olhos da linha imaginária que seguia, concentrada, focada!

Começo de imediato a fazer contas. A Sandra teria que estar a aparecer...
Mas entretanto passa mais malta amiga. Passa o Jorge Pedroso, passa o Carlos com a sua bicicleta “singlespeed”, também ele a martelar os pedais rampa acima, num esforço e tipo de cadência que me são tão familiares.



Passam mais uns quantos ciclistas, não muitos e eis que surge a nossa atleta.
Avisto-a ainda ao longe, identificando-a pelas cores do equipamento.
Volto a fazer as contas aos minutos que separam a primeira da segunda classificada, e aparentam agora ser menos do que no primeiro ponto.

A Sandra tinha ganho algum terreno à Mena e isso encheu-me de orgulho! Vinha forte, vinha motivada e digo isso ao Miguel que estava mesmo ao meu lado, ansioso, à espera de ver a mãe passar!
E quando ele a vê a ela, quando ela o vê a ele, quando se vêm... Foi um momento mágico, comigo a ficar sem palavras e de nó na garganta!

A expressão na cara da Sandra ao passar por mim foi, por si só, testemunha da intensidade com que ela viveu aquele momento...








Volto a inteirar-me que ela estava em corrida, contra ela própria mas também contra adversárias de carne e osso e volto a gritar-lhe que continuava em segundo lugar e que tinha ganho algum terreno para a primeira.
Mas vou continuando a premir o botão da maquina fotográfica.
A Sandra segue já de costas para mim, ainda com o Miguel a correr ao lado dela e avista a Joana que estava sentada dentro da mala aberta do carro, com o cão ao lado...
Mesmo sem conseguir ver a cara da minha companheira, aposto que foi dos melhores momentos que ela já vivenciou nisto das BTT!



Começo a acreditar que é possível ela colar na roda da Filomena. Mulher muito mais experiente e grande atleta em perfeita forma física, muitíssimo mais rodada que a Sandra neste tipo de provas. Mas o que falta à Sandra em experiência sobra-lhe em vontade e atitude e já vi essas duas condições fazerem a diferença em mais de que uma ocasião, pelo que comento com a Joana, algo emocionado até, que a mãe deles vai a ganhar terreno a uma verdadeira “pró” e que só por si, isso já é sinónimo do quanto a mãe deles é grande neste desporto.
A Joana acaba por me responder que a mãe dela é ainda melhor que essa tal de Mena, porque o que essa “Pró” fez em mais de uma década de treinos, a mãe dela está quase a conseguir em pouco mais de ano e meio...
O Miguel contrapõe com a teoria dele:

- Essa Mena é o Cristiano Ronaldo e a mãe é o Messi! - Diz o Miguel para a irmã, do banco de trás...
- Ahh, não podes comparar as bicicletas com o futebol! - Diz-lhe ela em tom reprovador.
- Posso, posso! A Mena é o Cristiano porque teve que trabalhar para chegar onde chegou, e a mãe é o Messi porque nasceu com o talento! É assim, simples.

Fico calado, sem me atrever a interromper aquele magnifico raciocínio, mas penso...
Senhores, não é que os fedelhos têm razão?!
De alguma forma a Sandra tem conseguido subir o seu nível de forma exponencial e consistente e está de momento a andar bastante bem, faltando-lhe, claro, a experiência e a sabedoria que esta traz consigo. Eu, pela parte que me toca, vou fazendo todos os possíveis para que cada vez acredite mais em si própria, nas capacidades e no poder que tem.
Continuando a treinar de forma consciente das suas lacunas e tentando melhorar estas, continuando a treinar forte e sistematicamente e sem dúvidas que irá dar muitas dores de cabeça às suas adversárias e muitas razões de orgulho à sua família e amigos!
E nesta conversa vamos seguindo. Eu a Joana, o Miguel e cão!

A igreja da Senhora do Ó seria o palco do primeiro abastecimento da prova, coincidente com ambos percursos, maratona e meia-maratona e foi para lá que nos dirigimos após sairmos de Montesouros.

Era domingo e dia de missa, e o local da pequena igreja estava já apinhado de carros quando lá chegamos. Estaciono como posso, que foi mal e porcamente.
Saímos para a rua e esperamos!


Ainda nenhum atleta tinha passado e tardariam ainda uns minutos largos a chegar, mesmo os primeiros. Este local era já depois da passagem pela praia de S. Julião, e distante cerca de 23kms do último ponto de encontro, em Montesouros, pelo que haviam uns quantos trilhos a percorrer, alguns deles técnicos.
Aqui o calor já se fazia sentir com alguma violência. O dia estava mais quente que os anteriores, dificultando um pouco a vida ao pessoal das bicicletas.




Esperamos bastante até que passe a Mena, ainda em primeiro, com o seu ar de máquina, de tanque de guerra impenetrável e indestrutível. Não pára, não abranda sequer. Foi como se aquele abastecimento nem sequer existisse...



Penso em como virá a nossa menina. E penso que será difícil para ela manter aquele andamento de luxo durante horas a fio. Mantendo o foco e concentração necessárias, sendo essas as duas grandes fraquezas da minha amada.
Esperamos mais uns minutos. Parecem uma eternidade!
Tinha para mim, secretamente, que a Sandra iria ser capaz de manter a motivação e o andamento e que seria ela que iria aparecer a qualquer momento para efectuar o controlo uns metros mais atrás do sitio onde nos encontrávamos, os quatro. Eu, o Miguel e a Joana, mais o patudo, todos ansiosos por ver a mãe chegar.
A Joana vai buscar uma garrafa de água e coloca-se em posição para ser ela a aguadeira da mãe, ideia do André Pimenta e que foi de mestre, diga-se de passagem!
Mas a Sandra tarda em aparecer.
Começamos a pensar que poderá ter passado alguma coisa, um azar...
A segunda atleta a surgir acaba mesmo por ser a Rita Esteves, que avistamos a chegar ao controlo de dorsais, enquanto da Sandra nem sinal. Assumo que terá acontecido algum imprevisto, fácil de acontecer nestas andanças. Um furo, uma corrente partida, eventualmente uma queda....
A Rita abranda mas também não pára no abastecimento... Segue no seu ritmo empertigado, relativamente lento e compassado, adiante, até a perdermos de vista na curva após a igreja.
Vou falando com o André, tentando enganar a ansiedade e a preocupação e fazendo por não o mostrar aos miúdos, embora também eles tenham já percebido que a demora e a actual terceira posição da mãe não são o cenário ideal.
Mas a Sandra acaba por surgir ao longe, reconheço-a novamente pelas cores do equipamento, ainda uns metros valentes antes do tal controlo de dorsais. Chega ao abastecimento e acaba por parar ao ver a filha de braçito estendido e de garrafa de água na mão, já depois de ter passado pelo Miguel, empoleirado em cima do muro ao lado da igreja.


Foi irresistível e tornou-se de paragem obrigatória para a Sandra.
Eu aproveito e acalmo a minha ansiedade perguntando-lhe como está e o que se passou.
Nada de quedas nem avarias mas tinha ficado retida num engarrafamento num dos trilhos mais técnicos, devido a malta mais lenta.
Confirmo-lhe que é agora terceira e que segue uns minutos atrás da Rita. Noto-lhe já algum cansaço junto com um pouco de desânimo.
Estando a sair sozinha do abastecimento, e com duras rampas pela frente, temi que fosse quebrar ainda mais o ritmo e que começasse a acusar o desalento de seguir sozinha a lutar - e que achasse que de forma inglória - contra adversárias mais fortes e mais experientes. Sei bem a dureza que é continuar a insistir apenas contra nós próprios e o que isso implica de auto-controlo, perseverança e determinação e temia que a Sandra cedesse ao facto de não ter uma lebre que a levasse adiante e que não a deixasse desanimar.
Nesse momento senti-me realmente impotente para a ajudar.
Como queria estar ali, a pedalar com ela, para lhe dar a minha roda, para a ajudar nos momentos mais duros, e a ajudar a chegar novamente à roda da segunda classificada e quem sabe ir tentar buscar, novamente, aqueles 4 ou 5 minutos de diferença para a Filomena que continuava a rolar em primeiro, inabalável.
Foi um momento duro para mim, vê-la arrancar daquele abastecimento, sozinha e entregue a si própria, mesmo sabendo que isso só a ajuda a crescer e ser ainda melhor atleta!
Precisei mesmo de me dizer isto duas ou três vezes até me mentalizar do mesmo.
Mas apre, que custou um mundo e foi com dificuldade que voltei a enfiar-me no carro para ir com os miúdos até à praia comer uns gelados.
E durante os minutos que durou essa curta viagem segui calado, pensativo, ansioso.
E essa sensação de ansiedade e impotência só passou já tinha estacionado o carro na praia de S. Julião.
Saímos para a rua os quatro e passados uns minutos vemos passar novamente malta da maratona, e já após os gelados lambidos, comidos e saboreados, quase 30 minutos depois, voltamos a ver passar malta com frontais alusivos à prova, incluindo algum pessoal do GDCTINCM que percorriam os trilhos da meia-maratona.
A Sandra levava deles bastante mais de uma hora de avanço e essa ideia voltou a tranquilizar-me e a fazer-me acreditar em pleno nas potencialidades daquela força da Natureza. Pela mulher de garra que é e pelo que já me mostrou no passado, sabia que ela não baixaria os braços enquanto pudesse lutar e tivesse força naquelas pernas. Volto a acreditar nisso. Mas era preciso que também ela acreditasse, que não se esquecesse que era capaz. Era preciso que ela acreditasse, sempre! E esse mantinha-se o meu medo!
Da praia saio mais os miúdos e o cão que andou todo o dia à trela, a puxão para um lado, a puxar para outro, todo o dia numa correria que para quem gosta é de sopas e descanso, não era todo a mais confortável. Pouco passava das 11h20 quando saímos da Senhora do Ó em direcção à praia e perto do 12h15 andávamos á procura da Aldeia Típica de José Franco que encontrámos, mas na qual nem entrámos porque ao Miguel não lhe apetecia!
E além disso começava a pairar no ar o cheiro das horas de almoço!
Era tempo de eu tratar de descobrir onde levar dois catraios pequenos a almoçar... Adivinhais o sítio eleito?! Por mim, não por eles! Responsabilidade do devaneio a quem de direito...
Acabamos a enfiar pelas goelas abaixo uns menus do McDonalds em Mafra, enquanto fazíamos tempo para nos deslocarmos até ao último ponto antes da meta, ao km 63.
Da igreja da Senhora do Ó a este local estavam 30kms de duros trilhos. De subidas e descidas, muitas delas exigentes e demolidoras, como só aquela zona o sabe ser.
Em conversa com o André Pimenta e para estimar tempos, calculámos cerca de duas horas e meia, mais coisa, menos coisa, entre um ponto e outro.
Arrancamos e chegamos ao último abastecimento as 13h15, menos de duas horas depois de sairmos da Senhora do Ó.
A Joana pergunta ao David Salvador Martins se a mãe já passou e este diz que sim. A Sandra tinha passado já, há cerca de 10, 15 minutos.
Faço contas e percebo de imediato que levava um ritmo muitíssimo bom, com uma média superior a 15km/h. Mantinha a terceira posição e não tinha ainda conseguido ultrapassar nenhuma das suas adversárias, mas ainda assim mantinha-se “na corrida”...
A média que ela ia a fazer volta a meter-me um largo sorriso nos lábios e a fazer crescer-me novamente a ansiedade no peito!
Que forte, jasus!
Que brutalidade está esta rapariga!
Só espero que não haja percalços até final...
Lembro-me de pensar para com os meus botões.
A Sandra não tinha desistido da sua guerra pessoal contra ela própria e continuava a martelar forte nos pedais. Só podia, porque eu contava em vê-la passar por volta das 13h30 e ela passa antes ainda, com uma média acima de 15km/h! E naquele terreno, médias dessas são médias de valor!
Despeço-me da malta que se encontrava nesse abastecimento, do David principalmente, desejando-lhes continuação de bom trabalho. Voltamo-nos a enfiar-nos dentro do carro e arrancamos a todo o gás em direcção à meta, agora colocada na lateral Sul do convento.
Começo a ficar com receio de não chegar a tempo de ver a nossa atleta cruzar o arco de meta! E a ansiedade cresce.
Voamos, literalmente, até ao centro de Mafra, com o cão a segurar-se como consegue para não tombar para um lado e para outro nas curvas mais apertadas.
Não devemos ter demorado mais de cinco minutos e quando lá chegamos avisto de imediato a Rita Esteves que, embora não tenha percebido logo, estava acabadinha de chegar.
Estaciono o carro à pressa e desloco-me ao controlo final e pseudo arco de meta.
Não percebi quanto tempo havia passado desde que saíra do ultimo abastecimento e a ansiedade toldava-me o raciocínio.
Peço à Joana que pergunte à senhora que se encontrava no controlo de chegadas se a Sandra Costa já tinha passado. E esta responde à miúda que sim!
Caiu-me tudo ao chão e fiquei super triste. Tinha falhado nos timings e não tinha estado lá para a receber na sua chegada triunfante. Nem eu, nem os miúdos. E começo a pensar em que ela deveria ter ficado também triste e decepcionada por não ter a família à espera no final da sua prova.
Senti-me mesmo frustrado, porque depois de tudo, de todo o esforço dela, nós não tínhamos estado no momento mais importante, porque o é! A chegada é sempre o momento mais intenso e importante e eu sabia-o! E não tínhamos estado presentes... Voltava o mal fadado nó na garganta, mas agora pelos motivos errados.
Começamos à procura da Sandra. Dois dos elementos do grupo do GDCTINCM já estavam no largo sentados à sombra e o Miguel diz que achava que a mãe estava lá com eles, mas afinal não.
Procuramos, procuramos, e nada. Não víamos a mãe em lado nenhum. Mais uns minutos e umas voltas e continuava sem haver sinais da Sandra.
Ainda penso que poderá ter ido tomar banho porque uns momentos antes tinha visto a Mena a deslocar-se para lá, com um saco a tira-colo, mas não poderia ser porque precisaria do seu saco que estava no carro.
Agarro no telefone e ligo-lhe. Toca, toca e ninguém atende. Tento novamente com igual resultado. Passam-se pouco mais de 15 minutos nesta azáfama.
Com o cão pela trela, os miúdos debaixo de olho e máquina fotográfica ao peito rondava a zona de chegada porque achava estranho, por um lado, o tempo estonteante que ela tinha feito e por outro o facto de não a acharmos em lado nenhum.
Enquanto isso e de um momento para o outro, vejo entrarem na recta final, os últimos companheiros do GDCTINCM, que estavam a terminar a meia-maratona e que já tínhamos visto na sua passagem pela praia. E, num daqueles acasos do destino e timing perfeito, vejo logo atrás, a nossa atleta!
Grito para o Miguel e para a Joana que a mãe deles afinal estava a chegar e agarro-me à máquina fotográfica para imortalizar o momento.
Não foram as fotografias que idealizei e pretendia tirar, mas o momento da chegada da Sandra e o encontro dela com os miúdos, com a Joana que se agarrou a mãe tipo lapa, compensou largamente esse facto e retratei o momento como pude.





Afinal tinha terminado tudo bem e o nó na garganta dissipa-se! A Sandra chegou um pouco mais atrás das suas adversárias, mas manteve o seu terceiro posto até final, com garra e determinação!
Eu não podia estar mais orgulhoso dela. Felizmente que tinha a máquina ao peito e que me pude esconder um pouco atrás dela, da máquina, porque só me apetecia gritar em alto e bom som, que aquela mulher de garra e de fibra é a minha companheira!
Faço mais umas fotos ao grupo de amigos que vestem as cores da Imprensa Nacional, com a Sandra no meio deles, de sorriso rasgado como é seu costume, empoeirada de alto a baixo, cansada, feliz e realizada.





E eu não podia deixar de me sentir igualmente felicissimo por ela. Feliz por ela se sentir assim, realizada, orgulhosa e feliz, também ela. Pelo que conseguiu, pelo que trabalhou e pelo prazer que isso lhe deu. Não só no atingir dos seus objectivos como no caminho que percorreu durante aqueles 76kms até os alcançar.

Entretanto, vamos ficando por ali à espera da pseudo cerimónia de pódio! Ele existia, o pódio, pelo que aguardámos que estivessem reunidas todas as atletas para que fossem entregues os respectivos prémios e lembranças. Por esta cerimónia esperavam as atletas femininas da meia-maratona e maratona e sendo que o conjunto das três atletas da distância mais curta estava reunido, seguia faltando a segunda classificada da distância maior.
Esperavam também outros.
Os acompanhantes, amigos e membros da Organização e até o Presidente da Camara.
Os presentes esperaram e desesperaram.
E a segunda classificada nunca apareceu, num total desrespeito pelos presentes, pelas suas adversárias e pelas atletas que todas são.
E desrespeitando também uma organização esforçada e que se dedicou de corpo e alma a esta prova, tendo sido essa entrega notória.
Mas a cerimónia aconteceu na mesma, com fotos e beijinhos de congratulação, com bom ambiente, apesar da seca, e com fotografias para mais tarde recordar.


A Sandra acabou por ter direito a foto no lugar mais alto do pódio por incentivo da Filomena, que mostrou ser verdadeiramente integra de carácter e uma verdadeira atleta, respeitadora dos seus adversários, ao contrário de quem esteve em falta!
A Sandra não cabia nela de contente, de feliz e de realizada.
E eu mal cabia em mim de orgulho nela!
Afinal, ela merecia-o!

Mas no final, já no estacionamento e da mesma forma, as coisas mal cabiam todas dentro do carro novamente! Provavelmente, inchadas de orgulho, também elas!
O dia, comprido e cansativo e ao qual todos sobrevivêramos estava praticamente no fim.
Os miúdos adormecem assim que o motor é posto em marcha. Assim como o Ty, aninhado como pode ao colo destes! Um dia em cheio, repleto de novas sensações e experiências, como os dias verdadeiramente épicos devem ser!
Pela minha parte, uma aventura em que não dei uma única pedalada, mas ao mesmo nível daquelas que exigiram de mim tudo o que tinha para dar.
Foi, sem sombra de dúvida, uma montanha russa de emoções!

Obrigado a todos, sem excepção, que ajudaram a tornar este dia, num dia "épico"!
A todas aquelas "motas" que rasgaram nos trilhos e nos presenciaram excelentes momentos, tornando o nosso dia em algo que valeu a pena viver! Deu gosto ver a malta meter WATTS nos pedais!
E um obrigado especial àqueles que acarinharam a Sandra e de alguma forma a encorajam e a tratam com o respeito, carinho e amizade que ela merece! Sois grandes!

A ti, Sandra Costa, minha companheira, um obrigado por me teres proporcionado mais esta experiência, tendo-se mostrado como uma das mais enriquecedoras que já tive em todos os meus anos de bicicletas de montanha e de maratonas! 
Cada dia que passa tenho mais orgulho em ti e na pessoa que és!
És uma força da Natureza, no verdadeiro sentido da palavra e eu sinto-me verdadeiramente privilegiado por poder fazer parte desta tua viagem.
Obrigado!


Frederico Nunes "Froids"

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