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domingo, 15 de novembro de 2015

Corre Jamor 2015

O Domingo acordou em tudo semelhante à restante semana.

O Sol brilhava descomprometido numa manhã cristalina e convidativa. O dia ia subindo no alto do seu vigor mantendo a temperatura ideal para enfrentar a aventura que nos levava ali aos três e a mim em particular. Ainda não eram 09h já estávamos no Estádio Nacional do Jamor, a caminhar para o local onde iria proceder à recolha do meu dorsal para a 6ª Edição do evento "Corre Jamor".
Ao aceitar o desafio do meu amigo Luís Estevão, estava também a comprometer-me com o maior desafio desta minha, ainda curta, carreira de corredor. Iria enfrentar a minha segunda prova de 10kms, mas com a variante de esta ser num sobe e desce constante, desenrolando-se num piso misto e que foi desde o asfalto, passando pela borracha da pista dos 400m do Estádio de Honra do Centro Desportivo Nacional do Jamor, a dezenas de metros em empedrado e vários quilómetros por pistas, caminhos e trilhos de terra batida, bem à fresca envolvidos pelo pinhal que rodeia a zona.
O levantamento do Kit de atleta aconteceu sem qualquer espera. Foi chegar e levantar o saco onde constava alguma publicidade, uma t'shirt técnica, o chip de controlo de tempos e o respectivo dorsal.
Um pouco depois encontro o Luís enquanto este se preparava para levantar o kit dele. Os cumprimentos da praxe e seguimos para o carro que estávamos ansiosos. Quer se dizer, eu estava. A Sandra e o Migas, não!
Chegámos muito cedo e essa espera aborreceu o Miguel. Ainda fizemos umas séries nas escadarias das bancadas do estádio até que foi horas do aquecimento geral dado por malta do Holmes Place. A bem de verdade, foi mais divertido do que técnico, mas serviu para acordar os músculos e por o sangue a correr com mais pujança e vigor. O Miguel é que não achou piadinha nenhuma àquela malta toda a tentar acertar numa coreografia demasiado estranha e descoordenada.

A partida foi dada às 10h30 sem atrasos.
Curiosamente, toda a ansiedade de há uma hora atrás era, naquela altura, uma mera recordação. Estava super tranquilo. Apronto o Strava e preparo a Playlist enquanto me vou mexendo para não arrefecer em demasia. Fazemos um minuto de silêncio em memória das vitimas do atentado de Paris e segundos depois ouve-se o tiro da partida.
Arranco bastante bem posicionado, bem colocado perto do arco de meta e à frente de quase 1700 atletas. O Luís, com quem entrara na manga da partida já havia encontrado o seu lugar ainda mais à frente, na busca do seu melhor tempo e objectivo pessoal.
Saio com um ritmo resguardado e comedido. Tinha ideia que a prova seria dura, com bastantes subidas e muito mais técnica do que a minha primeira e única experiência até então naquela distância. Sabia que o meu sucesso - e conseguir cumprir o meu objectivo - estava directamente relacionado com o ritmo com que iniciasse a prova e com que fizesse os primeiros dois ou três quilómetros.
Mas não é fácil um se controlar quando todos aparentam ir a fundo. No entanto, consegui manter o meu ritmo com rédea curta, mas por essa razão fui ultrapassado por centenas de participantes nos primeiros três quilómetros da prova... Até começarem as subidas, na verdade!
Saímos do Estádio de Honra para descermos na direcção da zona de canoagem num dos extremos do parque. Contornamos tudo e num ápice estamos a apanhar as primeiras subidas da manhã. E começou o meu deleite! A primeira rampa de gravilha que apanhamos leva-nos de novo a passar na porta do Estádio para seguidamente entrarmos nos trilhos de terra, ao quilómetro 3.
Na primeira subida que enfrentámos, a de gravilha, com cerca de 300 metros de extensão, comecei a ultrapassar malta. E foi assim até ao km3.5 para depois apanharmos uma descida até chegarmos ao km4, onde a vista era absolutamente brutal, com os olhos a pousarem em ambas as margens do rio, com ás aguas do Tejo tranquilas pelo meio, banhadas pelos reflexos de um belo dia de sol!
Neste ponto voltamos novamente a subir e eu volto a começar a ultrapassar companheiros que há uns minutos me tinham passado a mim. Muitos deles já caminhavam ao invés de correr... A subida terminou ao Km 5.4! Sempre a subir por trilhos e algum empedrado. Até aqui anda vencemos uma boa rampa que chegou bem perto dos 23% de inclinação - segundo o Strava - Bom, mas bom!
Os meus pés calcavam trilhos de terra batida desde o km3 e pouco ou quase nenhum asfalto haveriam de apanhar novamente. E sentiam-se bem. O motor a Diesel estava a começar a ficar quentinho e os pístons - entenda-se, pernas - mostravam sinais disso mesmo. A cada passada dada sentia-me mais leve. As subidas pareciam todas ao meu jeito e sinceramente só me lembro de subir... Pouco de cada vez, mas subia-se! As descidas serviam para descomprimir e abrir um pouco o passo, sempre com cuidado que calçando sapatilhas de estrada, a segurança que senti na passada nunca foi a melhor.
Nas rectas tentava "rolar" com o passo mais solto que conseguia e fui constantemente a ultrapassar gente. Lá volta e meia era ultrapassado por uma mulher-bala ou homem-bala... Mas alegrava-me o facto de que me sentia bem e, aparentemente, estava a dar conta do recado.
Ia atento à voz que me soprava ao ouvido os tempos por quilómetro que ia a fazer. Esta lá me ia dizendo: "último quilómetro a cinco minutos e...." E era o que me bastava ouvir!
O meu objectivo para esta prova era o de a completar num tempo inferior a uma hora. Se conseguisse baixar o tempo da Bimbo Energy Race tanto melhor mas sabia que isso seria virtualmente impossível. Já cumprir estes 10kms de piso misto, num rompe-pernas constante, era o desafio mais audaz a que me havia proposto nesta "cenaça" da corrida. Além de que seria um genéro de iniciação ao Trail e só isso era sinónimo que não podia comparar ambas corridas. Mas não tinha outra para referência.
De cada vez que a voz dizia "5 minutos", eu sabia que estava capaz, e mais perto, de cumprir o meu objectivo! Os segundos eram secundários e até metade da prova apenas me foquei em manter-me abaixo dos 6 minutos por quilómetro mantendo determinado ritmo e a passada o mais certa possível. Coisa complicada que é, percebi na altura, enquanto se corre no mato e em trilhos estreitos, com raízes e pedras, buracos, regos e outros pés que não os nossos com os quais nos temos que preocupar...
Haveria, ao Km5 um abastecimento líquido. Apenas água mas que aproveitei. Dei apenas uns quantos golos pequeninos e larguei a garrafa ainda não tinha deixado o empedrado. Esse maldito empedrado que foi o piso que mais me custou a vencer e ultrapassar.
A partir daqui e sentindo-me bem, comecei a pensar em fazer melhor do que até ali.



Comecei a correr com outro objectivo. O de melhorar os tempos por quilómetro que estava a fazer até então. Comecei a apontar para baixar dos 5 minutos por quilómetro mas tal acabei por não conseguir. Não é fácil com trilhos técnicos e sinuosos e malta a correr junto a nós. A segurança esteve sempre primeiro. A minha e a daqueles que ia ultrapassando, para não fazer ninguém tropeçar numa ultrapassagem mais forçada... Quando tinha que abrandar porque não conseguia passar em alguma subida ou outra zona, abrandava e esperava. Por vezes fui passado nestas alturas e acabava por seguir atrás desse atleta. Nos trilhos mais estreitos foi assim que geri a minha corrida. Mas, por várias vezes me vi obrigado a seguir num ritmo muito abaixo daquele que poderia levar.
Ainda assisti a uma queda de um companheiro que ia à minha frente. Não percebi se por câimbras se por outra razão qualquer, mas como ficaram logo dois companheiros com ele, nem parei. A bem da verdade, nem sequer abrandei o passo, tenho que admitir.
Meia dúzia de metros depois, nova rampa, curta e intensa, que fiz de passo mais curto mas certo, sem me permitir sequer abrandar o ritmo cardíaco. No topo desta já nem me lembrava mais do companheiro que havia ficado sentado na beira do trilho, nem do sofrimento e dor estampadas no seu rosto.
A determinada altura vejo a placa com indicação do KM 8, mas desta vez não esbocei sorriso algum. Estava colocada em plena subida e a única coisa que fiz foi um cerrar de dentes e meter na passada seguinte toda a potência que ainda tinha para dar.
Pensei para mim: "Se ainda tens forças, é bom que as esgotes nestes dois últimos quilómetros!"
E apertei ainda mais o passo, chegando a conseguir fazer 5:06/Km nesses 1000 metros seguintes mas sem conseguir descer abaixo da mítica marca dos 5 minutos ao Km!
Mais um bocadinho de rompe-pernas até ao final, sempre por trilhos de terra batida e sempre por um percurso muito bonito. A determinada altura, e ainda antes de entrarmos no último quilómetro, começamos a ver novamente o Estádio e toda a zona da meta por entre o denso arvoredo. Entramos no topo das bancadas e passamos por dentro da tribuna de honra, e que foi para mim um dos momentos altos e mais marcantes de toda a corrida. Contornamos o estádio, voltamos aos trilhos e uns metros depois estamos a chegar à entrada do Estádio de Honra, novamente.
Uma subida final ligeira a escassos metros da entrada no estádio. Levanto a cabeça após ultrapassar mais um companheiro e vejo o Luís, que, com o seu tradicional sorriso, me acena e com o polegar em riste me atira um:
"Boa corrida man, boa corrida!" - Ou algo assim...
E aqui sim, voltei novamente a esboçar um sorriso! Já o havia feito em várias alturas e principalmente quando passamos na zona da tribuna de honra com todo o estádio e festa, literalmente, aos nossos pés!
Estava a metros de conseguir finalizar a minha corrida e tinha-o feito cumprindo o objectivo a que me havia proposto!
Entramos no estádio com muita gente a assistir e temos mais 400 metros de Tartan até cortar a meta! Foram uns momentos intensos, tenho que admitir...
O ritmo naquela pista de borracha era o mais alto que conseguia naquela altura e o ambiente diferente de tudo o que já havia presenciado. Entro na última curva e a 75 metros da meta levanto os olhos para o cronómetro digital... Marcava 00:52:48! Sem grandes alaridos, mas também sem me conter felicito-me com uma palmadinha no ombro. Sempre havia conseguido o meu objectivo de terminar dentro da uma hora de prova. E por pouco não igualava o meu tempo da minha primeira prova, muito mais fácil que esta! Terminava a minha prova com o tempo oficial de 00:53:11!

O meu ritmo médio foi de 5:19 min/km o que foi uma boa recompensa pela meu esforço naqueles trilhos. Foi uma prova excelente, na qual me deu um prazer enorme em participar e à qual conto, sem sombra de dúvida, regressar no ano que vem!
E espero ter a companhia da minha companheira, que hoje não pôde participar por motivos de força maior. Mas que tenho a certeza que irá gostar da prova e do percurso tanto quanto eu gostei.
Até porque isto de correr tem a sua piada, mas acompanhado por quem se gosta, sabe ainda melhor!

O resumo final da minha participação resume-se ao diploma aqui ao lado.

Apesar de ter levado comigo uma fotografa profissional, não tive direito a uma única foto em plena actividade...
Assim não há condições, digo eu!

Passei depressa demais disseram as más línguas(!)

O próximo desafio é a Rota do Alpinista que já vai na sua 2ª Edição.
Dizem os autores da coisa que vai ser dura e tendo a concordar. Mais de uma centena de quilómetros com mais de 3000 metros de acumulado positivo a vencer não agoiram tarefa fácil, mas lá iremos de cabeça erguida e de peito aberto, enfrentar um dos maiores desafios do ano!
Cá virei depois dar noticias dessa tareia...

Vemo-nos por aí.
Abraçorros!

3 comentários:

  1. E a pensar que na primeira prova me proibiste de te dizer os kms :p ehehehehehe

    Parabéns!!! Adoro a tua garra e vontade de superação! :D

    Quanto às más línguas... sim, esperámos por ti em três(!!!) pontos distintos, passaste por nós e nem nós te vimos nem tu nos viste!

    E há fotos... tss tss tss

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    1. Obrigado pela tua pachorra para as minhas horas difíceis e para os meus devaneios!

      És a minha motivação extra quando me fraquejam as pernas :P

      E quando voltares às corridas, descansa que eu espero por ti nas subidas! ahahahah

      Vamos voltar a correr juntos e ainda com mais ganas!

      O Grande Prémio Fim da Europa não conta que vamos lá passear...

      Em Agosto voltamos em força, certo?!


      Bjkas

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  2. Este foi um verdadeiro relato à Froids! Muito bom e detalhado! Até parece que fiz a prova novamente! :)

    Já te disse e repito... fizeste uma grande prova para um estreante, com uma boa média ao km dadas as características da prova! Quando te vi chegar à zona do estádio fiquei bastante surpreso e até pensei para os meus botões: "Já???"
    Acho que todos esses anos a pedalar e a escalar deram-te uma estaleca enorme para subir aquelas subiditas do Jamor! Gostei de ver!

    Dica nº 2 - Trail curto (15k) de Bucelas no final de Janeiro...

    Boa sorte lá para o Alpinista!

    Abraço

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