Páginas

sábado, 29 de agosto de 2015

Rota do Carapau 2015

Rota do Carapau 2015!
Ou a Rota do Pivete, como ficou internacionalmente conhecida.

A convite do Jorge Pedroso e do André Batista, a dupla responsável por mais uma edição da Rota do Carapau, juntaram-se perto de meia centena de amigos.
Todos ávidos do mesmo. De bons trilhos, de boa camaradagem e todos esperançosos de curtirem uma bela manhã de BTT, por trilhos e caminhos, alguns deles alucinantes, junto às falésias da costa entre as praias de Santa Cruz e Peniche.
Pelo menos na ida, porque a vinda, essa, haveria de ser um pouco mais pelo interior, largando a linha costeira e usando, e abusando, dos estradões que nos conduziram de Peniche ao Vimeiro e depois e então, novamente a Santa Cruz.


Se os trilhos da manhã privilegiaram a diversão, com singletracks para todos os gostos e kits de unhas, com caminhos e trilhos pendurados nas arribas desafiando a gravidade, o coração e as vertigens de muitos de nós, os caminhos da tarde foram bem mais rolantes e tranquilos. Pelo menos até à descida da Serra do Vimeiro e posteriores singletracks que fomos apanhando, alguns técnicos q.b, a exigir muito da técnica e outros verdadeiras paredes de escalada que transpusemos como podemos, muitas vezes acartando a bicicleta aos ombros.





A Sandra aproveitou – e de que maneira, devo dizer – a estreia dos seus novos sapatinhos. Segundo a própria, safaram-na de deixar umas quantas figueiras plantadas nos caminhos.
Verdade seja dita que a dureza, inclinações e tecnicidade do terreno que apanhámos não eram de todo compatíveis com o estado em que se encontrava a sola dos antigos sapatos da moça. Sola de sapatos de estrada, literalmente.

Pela parte que me toca, se durante a ida de pouco ou nada me queixei, se durante essas horas, de pouco ou nada o meu dorido e massacrado corpo se queixou, durante o regresso a história haveria de ser outra.
Durante os cinco dias que anteveram esta passeata andei perdido por montes e vales da zona Algarvia e pelos caminhos e trilhos da Via Algarviana. Uma aventura com mais de 300kms e mais de 8.000 metros  de acumulado de subidas que me havia levado de Alcoutim, na fronteira com Espanha, ao Cabo de S. Vicente, em Sagres. E agora estava ali, literalmente a papar com mais 100kms e cerca de 1700 metros de desnível acumulado para juntar ao total da semana... E com somente um dia de descanso pelo meio...

Se o corpo pedia repouso, eu não lhe dei ouvidos! Mas haveria de pagar a ousadia.



A determinada altura as dores nas mãos conseguiram mesmo dominar momentaneamente sobre o prazer de pedalar por bonitas paisagens com a melhor companhia do mundo e arredores.
Não sou de me queixar muito, embora me lamente quando assim tem de ser, mas pelo bem da verdade, a Sandra já não me deveria poder ouvir. Lamentei-me, queixei-me, gani e quase chorei de tanto que me doíam o raio das mãos. As mãos, os pés, o rabo...
Mas principalmente eram as mãos que mais me doíam. As mãos e os nós dos dedos. Os nós dos dedos principalmente.
Os nós dos dedos, senhores!

Só o incrível pivete e maus cheiros que apanhámos durante quase toda a passeata foram superiores ao incómodo que senti em cima do selim.
E oh pá, se cheirava mal!








Após o almoço a Sandra tomou conta do nosso comboio. Em em boa hora o fez. Tomou o touro pelos cornos e levou-me de arrasto atrás dela. Ao contrário do que costuma suceder, ao invés de quebrar nos últimos quilómetros, fez as honras à casa e liderou o nossoTGV particular, percebeu o meu lastimável estado, parou e deixou-me parar quando assim teve que ser e esperou! Esperou que eu me arrastasse e esperou que eu não berrasse antes do final. E eu como bem entendido, consegui manter o motor em andamento, sem este gripar antes da derrapagem final...


Mas quer-se dizer; Eu berrar, berrei, mas lá me aguentei...

Entrámos na ciclovia de Sta Cruz com os três elementos dos Metralhas à vista. Tínhamos visto os três de fugida, 12kms mais atrás e durante a última paragem para reabastecimento que fizéramos, já nem sei bem onde, mas que juntou a malta quase toda.
Uns minutos depois de arrancarmos, voltamos a perde-los. Voltamos a perder a nossa malta, não os Metralhas, que esses arrancaram ainda antes do nosso grupo. E voltamos a perde-los exclusivamente por culpa do meu fraco andamento, ficando novamente a pedalar sozinhos como até ali - e quase sempre - desde que saíramos de Peniche.
No entanto, o singletrack que agora levávamos, pendurado no alto das arribas, e já com o mar e as praias novamente à vista era qualquer coisa de muito bom e melhorou-me significativamente o moral. Isso ou o facto de estar a menos de 3kms do final da aventura. Sim, isso talvez tenha sido o aspecto mais relevante no novo alento que sentia.

Fosse como fosse a Sandra pretendia superar-se mais uma vez e ao meu sinal de “Go for it que eu cá me aguento” pisa no pedal como se não tivéssemos perto de 100kms e muitos metros de acumulado já nas pernas e arranca de talega engrenada, em ligeira subida, para ultrapassar os companheiros Metralhas, que avistámos ainda desde o alto da colina onde estávamos e de onde víamos já as estufas de Sta. Cruz e antes de começar a descer por mais um vertiginoso singletrack que termina numa ponte de madeira feita de paletes.
Assim acontece. Ao pisarmos a ciclovia e 1km depois acabamos a passar por eles tipo foguetes! Eu consigo ainda balbuciar um “boa tarde” quando passo por cada um dos três, ao mesmo tempo que vou barafustando que “a rapariga vai doida” e “com licença”...

Avistamos a placa que indica o centro da vila, mas seguimos adiante por onde manda o percurso GPS que vamos a seguir e que pretendíamos completar na integra, pela moral que isso implicava e pelo compromisso que tínhamos connosco próprios.

Seguimos assim por mais uns trilhos de areia. Mais ainda, além dos muitos que já tínhamos apanhado. Mais areia e mais um ou outro engano meu. O ritmo era demasiado alto para a minha cansada cabeça. Cabeça cansada, pernas cansadas, pés cansados, rabo cansado, braços cansados e mãos numa desgraça!

No entanto chegamos precisamente ao mesmo tempo que os companheiros Metralhas que tinham atalhado caminho à vista da tal placa indicadora do centro da vila e que nós havíamos ignorado justamente uns minutos antes. E chegamos também em perfeito sincronismo com a restante malta amiga, como se combinado tivesse sido, depois deles terem ido ver as ondas à beira da praia e lavar as vistas naquelas finas tiras de pano... ahhhhh de espuma, de espuma! Tiras de espuma que as ondas faziam e não nas tiras de pano que cobrem as moças na praia. Foi isso, foram ver as ondas!
Nós, pela parte que nos toca, cumprimos com o que nos comprometemos. Cumprimos o percurso na integra, sem chegarmos já noite cerrada!
Além disso e como já é nosso apanágio, saímos de sorriso aberto e chegámos de sorriso rasgado! De dentuças arregaçadas para cumprimentar a vida como ela merece!
Os sapatinhos a fazer pandent foi só a cereja no topo do bolo!

Abraçorros!
Vemo-nos por aí.

Frederico Nunes "Froids"

Os créditos fotográficos são devidos na sua maioria ao Diogo Mota, Rafael Correia e Jorge Pedroso.
O track GPS irá para a respectiva pasta "Tracks GPS" quando tiver um tempinho para actualizar o repositório (que está uma desgraça de tão desactualizado)

2 comentários:

  1. Comentário 5*, melhor só mesmo lá !!
    Parabéns pelo testemunho, e as melhoras aos Nós dos dedos....
    :)

    ResponderEliminar